terça-feira, 22 de março de 2011

O poder não pode criar problemas para si mesmo

22/03/2011


Ter o poder significa ter a capacidade de fazer valer a sua vontade, o seu discernimento, a sua decisão
Vencer a eleição, conquistar o cargo, significa adquirir o poder, e, com ele, o acesso àquela "massa de energia" sujeita ao comando de quem dirige o governo, e cuja vontade, transformada em regras, leis e normas, é protegida e sustentada por todo um aparato de aplicação de sanções.


Ganhar a eleição, conquistar o poder, é dominar o mais eficiente "atalho" para que sua vontade seja aceita, respeitada e acatada pelos indivíduos a quem ela se aplica. É o poder do homem sobre o homem, somado ao poder sobre os recursos materiais, que a sociedade disponibiliza ao seu governo.
Numa democracia, somente se chega a esta condição mediante a vitória eleitoral. Ora, esta vitória é o resultado final de uma disputa entre candidatos ao mesmo cargo. Por sua vez, esta disputa não é uma competição olímpica. Ela é "uma guerra com data marcada para terminar", na qual os adversários usam os recursos mais eficientes ao seu alcance para destruir seus competidores junto ao eleitorado. Tanto é assim que, passada a eleição, o candidato eleito deve presidir a uma metamorfose de sua imagem, para transformar-se de candidato de um partido em governante de todos.
De qualquer maneira, começado o novo governo, os derrotados ocupam o espaço da oposição, e tentarão, ao longo de todo o mandato, criar dificuldades à ação de governo e provar para a sociedade a incompetência, desqualificação e/ou falta de honestidade dos titulares do governo. A oposição "joga" no erro do governo, nas suas medidas impopulares, nas suas contradições, em suma, em tudo que pode causar desgaste junto à população. Tudo isto para poder agora retornar ao tema desta coluna, com o argumento que empresta o título a esta coluna: "O poder não pode se dar ao luxo de criar problemas para si mesmo".
O lance tem que ser surpreendente para quem o recebe e não para quem o produz
A oposição já se encarrega com gosto desta função! Se, além dos problemas que ela cria, você consegue agregar aqueles cometidos por seu governo, no exercício do poder, então a sua competência para governar ficará sob sérias dúvidas. Ter o poder significa ter a capacidade de fazer valer a sua vontade, o seu discernimento, a sua decisão. Errar, nestas circunstâncias, em matérias importantes, é um sinal de grave deficiência no exercício do poder. É criar, por sua própria ação (vontade + discernimento), dificuldades para você mesmo. Criar problemas para si mesmo é um tipo especial de erro que somente quem tem o poder pode praticar. Atente bem para as suas características principais, para evitar este erro:
  • A ação que cria os problemas é um produto de livre criação da autoridade. Ninguém o obrigou a praticá-la. É uma idéia, à qual ele atribui certas conseqüências favoráveis;
  • Existe uma decisão clara da autoridade, que a implementa. Isto é, ela não acontece imperceptivelmente, e sim de forma aberta;
  • A decisão refere-se a uma questão política importante, sobre cujos desdobramentos a autoridade não tem controle;
  • Desta decisão (que implementou aquela "idéia") decorrem resultados negativos e prejudiciais, que, antes dela, não existiam.
Como se constata, este tipo especial de erro é específico do poder. É o poder usando suas prerrogativas para criar problemas para si mesmo. Como conseqüência, a autoridade vê-se enrolada com um problema que não tinha e que agora terá que administrar, e, o que é mais grave, que não existiria não fora aquela decisão que o originou.

Normalmente, as dúvidas, os alertas, são descartados sem maior reflexão, quando o poder usa suas prerrogativas para criar problemas para si mesmo
Este tipo de erro tende a ocorrer com maior freqüência quando a autoridade deseja produzir um "lance" ousado, surpreendente e inesperado. Nestes casos, a autoridade se entusiasma tanto com a antecipação dos efeitos positivos do lance que só consegue visualizá-lo funcionando na forma desejada. As advertências, as dúvidas, os alertas, são descartados sem maior reflexão. A atração pelo "lance" torna-se uma obsessão, sobretudo porque se faz acompanhar do temor de perder o "timing", do medo de que a passagem do tempo diminua o seu efeito, retire o seu poder de surpreender.
Este é o contexto psicológico, no interior do qual aquele erro ocorre. O alerta para o erro não deve, porém, implicar timidez na produção de "lances". O político competente terá que produzir os seus, e o sucesso deles é uma marca de excelência no desempenho.
Entretanto, o lance tem que ser surpreendente para quem o recebe e não para quem o produz. Este último está obrigado a analisá-lo objetiva e exaustivamente para assegurar-se que terá o controle sobre seus desdobramentos. Esta é uma matéria sobre a qual não se improvisa. Ela resulta de uma avaliação estratégica feita em sigilo, mas com todo o rigor, ponderando todas as possibilidades e antecipando seus desdobramentos.
Assim procedendo, você estará se vacinando contra o mais desmoralizante dos erros: aquele que você mesmo criou para si. Não é entretanto qualquer tipo de erro que possui todas estas conseqüências. Erros facilmente corrigíveis e de pequena relevância ocorrem a todo o momento numa administração. São parte do processo de "tentativa e erro", que é um processo legítimo de adquirir conhecimento. Não é sobre estes, como é óbvio, que incide a sentença de incompetência política.
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