terça-feira, 22 de março de 2011

Discurso fúnebre de Marco Antônio em homenagem a Cezar



Peça oratória foi pronunciada por Marco Antônio, nas escadarias do Senado Romano, em frente ao corpo de Cezar, assassinado a facadas pela conspiração de Brutus e Cassius
Para se entender o lance político do discurso é preciso explicar um pouco o contexto em que foi feito. O assassinato de Cezar havia sido bem aceito pela população, já que a explicação dada por seus autores foi a de que Cezar estava prestes a dar um golpe e se auto-nomear Rei, o que em Roma era absolutamente inaceitável.

Júlio Cezar foi traído por Brutus e Cassius
Marco Antônio era muito próximo de Cezar, correu o risco de morrer junto com ele, e, para evitar que reagisse ao ataque, foi distraído por um dos senadores da conspirata para uma conversa fora do local do crime.
Consumado o assassinato de Cezar, Marco Antônio, procurado pelos conspiradores, acertou com eles que falaria no Senado em prol da pacificação dos ânimos. Preservou assim a sua prerrogativa de fazer o discurso fúnebre de Cezar.
Neste discurso, frente a uma massa de cidadãos que até há pouco apoiavam e admiravam a Cezar, mas que agora o condenavam, Marco Antônio começa dando razão aos conspiradores, para ganhar tempo e ser ouvido pela massa.
Seguindo uma estrutura em que: na primeira frase condena Cezar, reitera que Brutus é um homem honrado, para na próxima frase dizer "mas...", e dar um exemplo real da grandeza, bondade, lealdade e do amor que Cezar tinha pelo povo de Roma, pouco a pouco Marco Antônio consegue mudar o estado de espírito da massa voltando-a contra os assassinos de Cezar.
O orador, com invulgar habilidade, inicia submetendo-se ao sentimento dominante (anti-Cezar), mas encontra uma forma sutil de dialéticamente afirmar ao mesmo tempo a crítica e a observação positiva. Como esta última é mais poderosa que a primeira, aos poucos vai recuperando a imagem positiva de Cezar, relembrando suas boas ações, seu patriotismo, suas virtudes, de forma a deixar para o povo a conclusão da enormidade do crime praticado não mais contra Cezar, mas sim contra Roma e o povo romano.
O Cezar odiado volta a ser o Cezar amado, e ressurge para a vida política com os que lhe permaneceram fiéis, e no ódio aos seus inimigos. É tentador lembrar a dramática mudança da reação popular à morte de Getúlio, depois dos discursos de políticos como Tancredo e Brizola. O Getúlio impopular de um dia atrás, ressurgia para a política nas palavras dos seus representantes, e na emoção popular.

O discurso

"Amigos, romanos, cidadãos dêm-me seus ouvidos. Vim para enterrar Cezar, não para louvá-lo. O bem que se faz é enterrado com os nossos ossos, que seja assim com Cezar.
O nobre Brutus disse a vocês que Cezar era ambicioso. E se é verdade que era, a falta era muito grave, e Cezar pagou por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. Venho para falar no funeral de Cezar. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.

Uma visão do interior
do senado romano
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma atitude ambiciosa de Cezar? Quando os pobres sofriam Cezar chorava. Ora, a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que Cezar era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Vocês todos viram que na festa do Lupercal, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes recusou. Isto era ambição? Mas Brutus diz que ele era ambicioso, e Brutus, todos sabemos, é um homem honrado.
Eu não falo aqui para discordar do que Brutus falou. Mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. Vocês todos já o amaram e tinham razões para amá-lo. Qual a razão que os impede agora de homenageá-lo na morte?" Neste momento, Marco Antônio faz uma pausa no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele disse, e a questionar se Cezar tinha afinal merecido a morte que teve. Passado este interlúdio, retorna Marco Antônio a falar.
"Ontem, a palavra de Cezar seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles. Prefiro falar mal do morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados.
Mas eis aqui um pergaminho com o selo de Cezar. Eu o achei no seu armário. É o seu testamento. Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me, eu não pretendo lê-lo) eles se arrojarão para beijar os ferimentos de Cezar e molhar seus lenços no seu sagrado sangue." O povo reclama de Marco Antônio e exige que ele o leia.
"Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro e sim humanos. E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de Cezar, vão se inflamar e ficarão furiosos. É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cezar! Pois se souberem... o que vai acontecer?
Então vocês vão me obrigar a ler o testamento de Cezar? Então façam um círculo em volta do corpo e deixem-me mostrar-lhes Cezar morto, aquele que escreveu este testamento.
Cidadãos. Se vocês têm lágrimas, preparem-se para soltá-las. Vocês todos conhecem este manto. Vejam, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão querido de Cezar, enfiou a sua faca, e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue de Cezar escorreu.
E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de Cezar. Oh! Deuses, como Cezar o amava. O golpe de Brutus foi, de todos, o mais brutal e o mais perverso. Pois, quando o nobre Cezar viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu coração. Oh! Que queda brutal meus concidadãos. Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto esta sanguinária traição florescia sobre nós.
Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas. Choram ao ver o manto do nosso Cezar despedaçado. Bons amigos, queridos amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados.
Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões. Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos." Seguem-se novamente comentários das pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos. Volta Marco Antônio.
"Aqui está o testamento, com o selo de Cezar. A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. Mais, para vocês ele deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre. Este era Cezar. Quando aparecerá outro como ele?" Revoltada, a massa sai rumo às casas dos conspiradores para vingar Cezar.

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2 comentários:

  1. No fim da vida, lutou numa guerra civil com a facção conservadora do senado romano, cujo líder era Pompeu. Depois da derrota dos optimates, tornou-se ditador (no conceito romano do termo) vitalício e iniciou uma série de reformas administrativas e económicas em Roma.

    O seu assassinato nos Idos de Março por um grupo de senadores travou o seu trabalho e abriu caminho a uma instabilidade política que viria a culminar no fim da República e início do Império Romano.

    Não foi totalmente um bandido, nem totalmente um mocinho, se equipara a Lampião, nosso gangaçeiro nordestino.

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