domingo, 20 de março de 2011

Encruzilhada tucana


Ao longo dos próximos dois meses, o PSDB terá uma excelente oportunidade para se repensar. Cumprindo o que estabelece a legislação que regula a vida dos partidos, está realizando suas convenções zonais e municipais, de domingo passado até hoje. As estaduais serão em 17 de abril e a nacional em 29 de maio. Nos três níveis, o partido se reavaliará.
É um bom momento para que isso aconteça. Depois da derrota na eleição presidencial, ainda atordoado pelos maus resultados nas disputas para o Senado e a Câmara, o PSDB precisa encontrar logo seu rumo. De janeiro para cá, dentro de quatro paredes, os tucanos conversaram muito, mas não emitiram sinais claros para a sociedade sobre o que pretendem.
Suas lideranças, quando vêm a público, enfatizam que o partido precisa encontrar um discurso, que não pode ficar sem um diagnóstico da situação atual do país e sem propostas. Que deve definir que tipo de oposição fará ao governo, para não restar a reboque dele.
Falta fazer. As eleições acabaram há seis meses, o ano político já tem três, a legislatura começou no dia 1º de fevereiro. Passou a hora de repetir que o PSDB está sem discurso. É preciso formulá-lo.
Essa demora é prejudicial às outras forças oposicionistas, que viveram, ano passado, experiências ainda mais traumáticas que o PSDB. DEM e PPS sequer tiveram o consolo de conquistar vários governos estaduais, dentre os quais algumas jóias da coroa, como São Paulo e Minas. Diminuíram de tamanho e estão ameaçados de minguar ainda mais, enfrentando o risco de defecções em massa. Por tudo isso, mais dependentes ficaram do irmão maior.
Se todo o sistema político estivesse nesse diapasão, não seria tão grave. Só que não está. Para o PSDB e as oposições, o problema é que o governismo vai bem, obrigado.
Não que o clima dentro dos partidos da base (e nas relações entre eles) seja sempre ameno. Mas estar no governo simplifica em muito os problemas, entre os quais definir um discurso e um rumo. Quem ganha a eleição (especialmente se forem três seguidas) não costuma enfrentar dilemas existenciais.
O PSDB está parado por que não consegue resolver um impasse paradoxal. A vasta maioria de seus quadros quer uma coisa. A minoria quer outra. E impede que a vontade majoritária prevaleça.
Hoje, ninguém sabe ao certo o tamanho do serrismo que remanesce. Salvo os apoiadores convictos do ex-governador, parece que só há dois tipos de tucano: os que sabem que o tempo de Serra passou e não se incomodam de dizê-lo e os que têm a mesma certeza, mas se constrangem de externá-la. Por amizade e respeito à sua trajetória, optam pelo silêncio.
Até quando? A experiência ensina que não faz sentido esperar que Serra mude de opinião e se retraia. Pelo contrário, tudo que fez desde outubro do ano passado sugere que não pretende se conformar com o que pensa a maioria de seus correligionários e a quase totalidade dos integrantes dos outros partidos da oposição.
Em 2010, o PSDB tinha dúvidas sobre o caminho a seguir. Uma parte ponderável do partido se iludiu com as pesquisas feitas em 2008 e 2009, achando que elas prenunciavam a vitória de Serra. Não foi o que elas passaram a mostrar a partir do começo do ano, mas aí era tarde. Aécio já havia se recolhido e a candidatura Serra tornou-se inexorável.
Ele fez a campanha que quis, cercando-se de assessores nos quais seus companheiros não confiavam. Escolheu por conta própria o que diria e como. Formulou sozinho seu projeto eleitoral. A única coisa que não conseguiu foi montar a chapa com Aécio, por que ela nunca foi possível, a não ser em suas fantasias (e nas de pessoas mal informadas).
O PSDB e as oposições não têm nenhuma dívida para com Serra. Ele é que as tem. E, como não dá mostras de que pretende quitá-las, cabe ao partido cobrá-las.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi 


publicado no Blog do Noblat, em 20/03/11

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