quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tarso surpreende em aula magna ao falar sobre maconha

Notícia da edição impressa de 07/04/2011 do Jornal do Comércio


Samir Oliveira
FREDY VIEIRA/JC
Tarso Genro defendeu estudos para legalização e foi aplaudido; petista chorou ao falar sobre Mandela
Tarso Genro defendeu estudos para legalização e foi aplaudido; petista chorou ao falar sobre Mandela
Era para ser apenas uma formal aula magna do governador Tarso Genro (PT) no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Mas, após uma palestra densa, em que comentou conceitos complexos e citou intelectuais como Martin Heidegger e Antonio Gramsci, o petista surpreendeu a todos e arrancou aplausos e risadas dos estudantes.

Ao ser questionado se o combate às drogas já havia chegado a um ponto em que não existe mais espaço para proibicionismo frente aos aspectos culturais, Tarso deu declarações que raramente se ouviriam na boca de um governador - que já foi ministro da Justiça.

"Maconha muitos especialistas dizem que faz menos mal do que cigarro. E eu nunca vi nenhuma pessoa matar por ter fumado cigarro de maconha", afirmou, quebrando o clima solene do evento.

O petista disse, ainda, que durante sua atuação como militante político clandestino contra a ditadura militar (1964-1985), só não fumou maconha porque as condições de segurança não permitiam.

"Não tenho nenhum preconceito. Na minha época a gente não fumava maconha não era porque não tivesse vontade. Era porque as condições em que a gente vivia - quem trabalhava na clandestinidade - não adicionavam mais uma questão de insegurança, que era a questão da maconha. Apenas por isso. Mas dizem que é muito saboroso", referiu, caindo nas graças do público.

O governador lembrou que durante o Fórum Social Mundial em Belém, no Pará (2009), quando era ministro da Justiça, foi abordado por uma manifestação que exigia a legalização da cannabis sativa - nome científico da planta de maconha.

"Vieram uns 300 jovens, cada um com um potezinho com a sua maconhazinha plantada. Cercaram meu carro e disseram: ‘Ei! Polícia! Maconha é uma delícia!'."

Na ocasião, Tarso brincou com os policiais federais que faziam a sua segurança: "Perguntei a eles se não iriam prendê-los. Não dá, né? É uma realidade social diferente", explicou ontem na Ufrgs.

Para o governador, as drogas são um elemento da globalização econômica e financeira, e o dinheiro oriundo de sua comercialização circula pela sociedade capitalista.

"Se a gente pudesse regular essa questão da droga de forma que ela não fosse um componente econômico dessa decadência civilizatória, não vejo problema de que ela pudesse ser liberada em circunstâncias muito concretas e específicas e respeitando a opção que os indivíduos teriam para utilizar ou não esses estímulos", defendeu Tarso. Ele ressaltou, porém, que nos dias de hoje a descriminalização não surtiria efeito. "Na situação atual, a legalização não ajudaria a combater essa circulação. Essa transformação da droga em dinheiro, do dinheiro em droga, da droga em poder, do poder em política e assim por diante".

O petista pregou que sejam realizados estudos para avaliar a legalização da maconha. "Tem que se fazer uma distinção específica levando em conta o que é comprometedor da saúde e da sanidade mental para trabalhar isso de uma forma equilibrada."

Antes de falar sobre esse tema, Tarso também surpreendeu o público ao chorar quando se referiu a Nelson Mandela - ex-presidente da África do Sul que foi preso durante o regime de discriminação racial do Apartheid.
O governador não conseguiu conter as lágrimas e discursou com a voz embargada. "Me desculpem, mas sempre que falo sobre o Mandela faço esse fiasco", retratou-se.

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