domingo, 17 de abril de 2011

Por um levante em massa – Danton




Discurso do líder francês foi pronunciado em 2 de setembro de 1792 no momento mais sombrio da revolução
Uma energia transbordante, uma fogosidade jovial e temerária no uso da força a serviço da revolução, uma eloquência arrebatadora, uma joie de vivre insaciável, expressa no amor, no comer, no divertir-se, e numa nonchalance em relação à vida, uma confiança exagerada em seu poder, uma fé profunda na justiça, no povo, na nação, e na revolução.

 

Danton tinha uma  confiança exagerada em seu poder, uma fé profunda na justiça, no povo e na revolução.
Todos estes atributos reunidos num rosto de cão de fila, desfigurado desde a infância por uma chifrada de touro, com cabelos negros volumosos e descompostos, como se fosse uma juba, num corpo de dimensões hercúleas, uma voz poderosa, ele conseguia, com o busto entesado, a enorme cabeça atirada para trás, eletrizar uma multidão, ou domar um inimigo. Eis Georges-Jacques Danton. Ele foi o clarim que soou o toque de ataque contra todos os inimigos da pátria e da revolução.
Ele encarnou a revolução naquilo em que ela possuía de mais carnal e entusiástica. Este tribuno tinha fortes traços dionisíacos. Ele é vida, ele é poder. Esta energia torrencial extravasava qualquer tentativa de discipliná-la, mais ainda em meio ao torvelinho revolucionário, em relação ao qual ele era, ao mesmo tempo, sujeito e objeto, algoz e vítima.
Sua inteligência não se subordina a um sistema. Mas ele mede, com um olhar de águia todas as possibilidades de uma situação, só retém os fatos que lhe permitirão definir onde está o perigo e como encontrar um ponto de apoio, para atirar-se por inteiro com toda a sua energia, audácia e eloquência na luta pela realização do objetivo que escolheu.
Seu discurso é, pois, uma improvisação, sem ordem arquitetônica, sem liame lógico que unifique os argumentos. Mas não se pense que sua oração não tinha unidade. Danton construía a unidade do discurso na expressão eloquente de uma vontade apaixonada pela vitória a serviço de sua fé fundamental. As frases não estão dogmaticamente encadeadas entre si, mas encontram-se todas imantadas pela mesma paixão e direcionadas para o mesmo objetivo. Sua oratória dispensa a subordinação hierárquica dos pensamentos, em troca da sua convergência num mesmo objetivo.
Na sua oração os ornamentos desaparecem, as metáforas são simples, o mais das vezes triviais, às vezes mesmo de mau gosto, mas o efeito na multidão é sempre explosivo.
Seu principal papel na revolução foi o de liderar todo um povo, pelo magnetismo de sua eloquência, na defesa da revolução. Sua eloquência alcança o auge da força, quando ele a usa para atacar os inimigos, quando ele convoca as energias revolucionárias contra os inimigos externos ou os internos (denuncia dos girondinos). É o frenesi do ataque e do corpo a corpo que lhe inspira a verdadeira grandeza.
O discurso “Por um levante em massa” (Pour la levée em masse) é um exemplo perfeito do seu poder de convocar as energias revolucionárias contra os inimigos da revolução.
Foi pronunciado, este formidável grito de alarme e de esperança, no momento mais sombrio do revolução. Desde a traição dos generais monarquistas (junho de 1792) a pátria foi proclamada em perigo; a monarquia constitucional caiu em 1º. de agosto; as derrotas exteriores se multiplicaram justamente no momento mais sombrio do revolução
No interior da França o povo se preparou para castigar os traidores, a Comuna de Paris, dominada por Danton, obteve da assembleia a criação de um Tribunal Revolucionário. Com essas medidas o inimigo interno foi controlado. Era então a hora de a França voltar-se para suas fronteiras invadidas. Neste discurso, Danton soube tornar patético e irresistível o apelo patriótico pela defesa da liberdade, recém conquistada e já ameaçada.

O discurso


Danton soube tornar irresistível o apelo patriótico pela defesa da liberdade, recém conquistada e já ameaçada 
 
 
É muito gratificante, Senhores, para os ministros de um povo livre poder anunciar que a pátria vai ser salva.
Todos se agitam, todos se entusiasmam, todos ardem de vontade de combater.
Vós sabeis que Verdun não se encontra ainda em poder dos inimigos. Vós sabeis que a guarnição comprometeu-se a sacrificar o primeiro que propuser a rendição.
Uma parte do povo vai se dirigir para as fronteiras; outra vai cavar trincheiras, e uma terceira, portando lanças vai defender o interior de nossas cidades.
Paris vai apoiar estes grandes esforços. Os comissários da comuna vão proclamar, de forma solene, o convite aos cidadãos para se armarem e para marchar pela defesa da pátria.
Este é o momento, senhores, que vós podeis declarar que a capital merece o apreço de toda França; é este o momento em que a Assembleia Nacional vai tornar-se um verdadeiro comitê de guerra.
Nós propomos que vos junteis a nós, para dirigir este movimento sublime do povo, nomeando comissários para apoiar e viabilizar essas importantes medidas.
Nós propomos que qualquer indivíduo que se recuse a oferecer sua pessoa para servir, ou para fornecer suas armas, seja punido com a condenação a morte.
Nós propomos que seja feita uma instrução aos cidadãos que os oriente para organizar e dirigir seus movimentos.
Nós propomos que sejam enviados mensageiros para todos os departamentos da nação, a fim de informar sobre os decretos que esta assembleia aprovou.
A campainha que vamos fazer soar não é um sinal de alarme, é o sinal que convoca para o avanço contra os inimigos da pátria.
Para vencê-los, Senhores, precisamos ter audácia, ainda audácia, sempre audácia, e a França será salva.

 

Texto introdutório por Francisco Ferraz
 
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