quarta-feira, 27 de abril de 2011

Com que roupa eu vou?, por Zé Reis* e Paulo Wayne**



                                                                          

Distante, ainda, 18 meses das eleições de 2012 e com apenas um candidato declarado, as cartas começam a ser jogadas.
Embora já com sua candidatura definida, o atual prefeito José Fortunati, todavia, não tem resolvida sua política de alianças e, tampouco, esboçada publicamente.
Após, ter herdado o comando do Poder Executivo da Capital, com a renúncia do então prefeito Fogaça, em 2010, alguns analistas políticos e algumas lideranças de esquerda, esperavam que no início deste ano de 2011, com a assunção do novo governador do estado com o apoio do PDT, o atual prefeito faria uma mudança de perfil do seu governo e poderia até mesmo aproximar-se do Partido dos Trabalhadores, não foi o que aconteceu. Ao contrário, com algumas trocas pontuais de secretários o governo municipal manteve a aliança com os principais partidos que já davam sustentação a administração da capital e conservou inalterada a política do governo municipal.
Mesmo que alguns setores importantes do PT, minoritários ainda, esbocem uma simpatia por apoiar o candidato do PDT, essa possibilidade dialoga pouco com a vida, pois representaria um rompimento do Prefeito com boa parte de sua base aliada na Câmara de Vereadores, tornando difícil a governabilidade logo no momento em que mais precisará de apoio político.
 Uma aliança PDT-PT, implicaria na imediata mudança da base aliada do atual governo municipal e não garantia maioria no plenário, pois teria apenas 12 vereadores. Logo, só se viabilizaria com a adesão de mais dois ou três partidos.  Assim, o risco dessa operação é muito alto, exigindo do prefeito, que hoje tem uma base sólida, o risco de desagregar a base de apoio sem a garantia de uma composição ampla para o próximo período.
  Portanto, tudo indica que o leque de forças que apoia o atual governo deverá se repetir, com poucas defecções, tendo como centro o PDT e o PMDB. Se tal hipótese se materializar teremos um bloco constituído por um partido da base do governo Tarso, os trabalhistas, com um dos seus principais adversários na Assembleia Legislativa, os peemedebistas. Restando saber qual será o papel dos demais partidos da base governista municipal: o PTB, o DEM, o PP, o PPS e o PSDB.
O PTB parece estar disposto a compor com um dos possíveis blocos. O PP tem a opção de apresentar a recém-eleita senadora, Ana Amélia Lemos, ou preservá-la para a eleição estadual de 2014. O DEM ensaia lançar o Dep. Estadual Paulo Borges, mas, provavelmente, dependerá das possibilidades de alianças. O PSDB poderá valer-se de um nome da família Crusius (Yeda ou Tarsila) ou de Nelson Marchezan Júnior para buscar fortalecer o partido e arregimentar forças para a próxima disputa estadual.
Desde a última eleição municipal PCdoB-PSB formaram um bloco político que tende a se repetir em 2012 e deve ter como candidata, mais uma vez, a Dep. Fed. Manuela D’avila. Essa aliança exerce uma forte pressão no PT, inclusive por dentro do governo estadual, para que sua candidatura seja a que represente as forças políticas que dão apoio e sustentação aos Governos Tarso e Dilma. Lastreada na expressiva votação obtida na eleição de 2010, a deputada procura se colocar como a principal opção do bloco, entretanto sempre fica a desconfiança de que poderá não ter fôlego para a disputa. Lembremo-nos que, em 2008, foi uma candidata com forte mídia e uma boa largada, mas esmaeceu na reta de chegada, principalmente, pela composição com o PPS e pela força da militância do PT, que lhe fez forte oposição. Sem a atração do PT para o bloco a tendência da candidatura de Manuela deve ser a mesma da eleição municipal passada. Largar bem e perder fôlego na chegada, até por que já não será mais uma novidade.
O Partido dos Trabalhadores ainda não definiu se aposta em uma candidatura própria ou apoia algum dos aliados. As manifestações das instâncias diretivas, mesmo que não públicas ainda, revelam cautela. Mas, grosso modo, podemos dizer que na esfera da direção municipal existe uma maioria inclinada por uma alternativa de candidatura própria. No âmbito estadual a cautela é maior ainda, não existindo uma maioria inclinada por uma ou outra opção, apenas, a certeza de que o caminho escolhido deve ser trilhado com todas as precauções possíveis para que tenha o menor impacto na base aliada dos governos estadual e federal.
Seja qual for a opção é certo que haverá decisões importantes a tomar.
Se optar por apoiar a candidatura de um dos aliados, PDT ou o bloco PCdoB-PSB, certamente terá que aparar arestas com o não escolhido, que no mínimo colocar-se-á em uma postura política neutra em relação ao governo estadual, estando, portanto, suscetível a pontualmente votar com a oposição. O risco aumenta se a escolha recair no bloco PCdoB-PSB, pois significará virar as costas ao PDT, que tem uma bancada maior na Assembleia Legislativa.
Escolher o PDT, se esse não romper o atual bloco de situação em Porto Alegre, com os riscos já abordados anteriormente, será aliar-se a seus algozes na eleição de 2004 e 2008. Além disso, os embates entre as bancadas do PT e PDT na Câmara de Porto Alegre tem sido frequente, principalmente, em relação a CPI da Juventude.
Igualmente, não se pode esquecer que há muito tempo a maioria dos dirigentes pedetistas, principalmente os da capital, optou por não aliar-se ao PT. Sendo exceção a atual participação no governo estadual, que se dá muito mais por uma intensa mobilização e opção do PT. Recordemo-nos que até o último momento o PT tentou incluir o PDT no leque de alianças e que o governador Tarso Genro manifestou interesse em contar com o apoio do PDT, ainda durante o processo eleitoral, mesmo o PDT estando aliado ao PMDB.  
Se prevalecer a opção pelo PDT, com certeza estará muito mais baseado em questões de sustentação do governo estadual do que nas questões municipais.
O ato do PT abrir mão de uma candidatura própria poderá ser visto como um gesto de grandeza e de não hegemonia. Mas, também, significará deixar de lado as melhores condições vividas para conquistar o governo municipal desde a derrota de 2004. Se em 1998, o fato de governar Porto Alegre foi importante à conquista do governo estadual. Em 2012, o efeito de governar o estado e o país deverá jogar papel significativo, por óbvio, na disputa pela capital. Sendo assim, é difícil acreditar que o PT não terá candidatura própria e vai abrir mão de um imenso capital político.
Porém, não é menos verdade, que essa opção ainda precisa ser materializada através de um nome, a princípio de consenso, que represente o partido na eleição. Até o momento apenas o Ver. Adeli Sell colocou o seu nome a disposição para a disputa. As outras possibilidades não se colocaram na disputa embora o leque de opções seja grande e variado. Raul Pont, Maria do Rosário, Adão Villaverde, Henrique Fontana e Sofia Cavedon são nomes ouvidos intramuros como possíveis alternativas.
Certamente, o PT não poderá abrir mão de seu papel de principal partido de esquerda e para bem representá-lo apresentar uma alternativa de candidatura própria. Essa definição deverá ser feita de forma segura e cautelosa, evitando turbulências junto aos aliados dos governos estadual e federal, principalmente, no 1ºturno, onde poderão concorrer mais de uma candidatura da base governista.  

*        Zé Reis – Secretário Geral do PT de Porto Alegre
**      Paulo Wayne – ex-Tesoureiro do PT de Porto Alegre

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