domingo, 31 de julho de 2011

Faça A Coisa Certa


Dizendo o óbvio: os governantes não são julgados pelo tamanho dos problemas que enfrentam, mas pelas respostas que a eles dão.
As pessoas não avaliam quem tem função no Executivo segundo a gravidade dos problemas existentes. Isso só acontece em situações excepcionais, quando elas se convencem que alguma coisa errada foi causada por alguém. Aí sim a conta é cobrada.
Na maior parte das vezes, não é isso que ocorre. Os problemas são de responsabilidade difusa, ninguém tem paternidade clara. Muitos são antigos e é impossível saber quando surgiram. São tão disseminados que parecem nascer por geração espontânea.
O problema da saúde pública, por exemplo. Hoje, para a vasta maioria dos brasileiros, é o mais grave e urgente do país. Do Oiapoque ao Chuí, nas pesquisas de opinião, sempre aumenta a proporção de entrevistados que o apontam como sua maior preocupação. Está se tornando uma obsessão nacional.
Alguém pode ser individualmente responsabilizado por ele? Mesmo o mais petista não teria coragem de dizer que os tucanos são culpados e só um oposicionista muito mal informado diria que a culpa é do “lulopetismo”.
Com seu habitual bom-senso, as pessoas comuns sabem que o problema da saúde não tem uma causa única ou um só culpado. Que, a rigor, nem é tão importante discutir como se originou. O relevante é saber o que cada político faz para resolvê-lo. É assim que eles são avaliados, não pelo fato de haver o problema.
Foi, fundamentalmente, pela sua passagem pelo Ministério da Saúde, no segundo governo de Fernando Henrique, que Serra se tornou candidato a presidente em 2002, permaneceu no páreo em 2006 e emplacou uma nova candidatura presidencial em 2010.
A gravidade do problema da saúde impediu que fosse candidato? Alguém jogou a responsabilidade por ele em seu colo? (A campanha Lula até tentou, em 2002, sem necessidade ou sucesso). Foi porque ele resolveu o problema da saúde que teve, nas duas vezes, um desempenho razoável e chegou, em ambas, ao segundo turno?
Sabemos que não. Serra foi um bom ministro da saúde e se tornou um candidato presidencial respeitável ao conseguir fazer boas coisas, apesar da gravidade da situação. E não foram ações que solucionaram as carências mais sentidas. Pouco melhorou, por exemplo, a qualidade do atendimento oferecido no sistema público e pouco aumentou a oferta de equipamentos básicos, como hospitais e postos de saúde.
Iniciativas como a criação dos genéricos e a distribuição do kit anti-Aids ficaram como símbolos do que é possível fazer para diminuir problemas complicados. Um “pouco” que é “muito”. Isso é que foi relevante na formação da imagem de Serra.
Há algo parecido na briga de Dilma para moralizar o Dnit. É lá, no foco de problemas de corrupção que existem há anos no setor, que ela se propôs a mexer e a não descansar enquanto não terminar uma faxina em regra.
O que mais chama atenção é quão sozinha ela está na empreitada. No Congresso, seu partido lhe dá apoio apenas discreto, temendo indispor-se com as outras bancadas da “base”. Nessas, ninguém defende medidas que podem se voltar contra elas.
A oposição finge espanto com o que vê, e se recusa a contribuir para que tenha sucesso. Na mídia, seus porta-vozes preferem o papel de vestais escandalizadas, ao invés de reconhecer o valor do que Dilma está fazendo.
Fazer uma limpa no Dnit resolve a corrupção no Brasil? Talvez não, mas é um passo fundamental. E é dando um passo de cada vez que se anda. Pelo menos, na vida real, onde promessas grandiosas e onipotentes costumam ser sinônimos de fazer nada.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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