domingo, 3 de julho de 2011

A dívida privada que vira dívida pública

extraído do blog Tijolaco.com, de Brizola Neto, de 03/07/11.



A matéria – e o gráfico, que reproduzido acima  – publicados hoje pela Folha de S. Paulo reflete muito bem o que buscamos dizer quando afirmamos que é o dólar, muito mais que qualquer pressão inflacionária, o grande perigo, hoje, para a economia brasileira.
Embora o endividamento seja, basicamente, privado, é o Estado brasileiro que tem de entrar como uma espécie de “fiador monetário” destes créditos.
Explico: quando estes recursos entram no país, são convertidos em reais.
Para que estes reais não “inundem” e economia, o Banco tem de recolhê-los com a emissão de títulos,  captando-os em troca de juros – e de juros altos.
Isto é: o dinheiro que foi tomado por particulares lá fora, a juros baixos, é remunerado a juros altos pelo Tesouro.
E reaplicado, em dolar, a juros baixos no exterior, como reserva cambial do país, em boa parte para proteger a moeda e a economia brasileiras de súbitas valorizações do dólar.
Ter reservas cambiais, em si, é muito bom para um país. Mas o discutível é ter reservas caras para garantir dinheiro tomado barato fora.
A criação do imposto sobre Operações Financeiras e sua progressiva elevação até 6% conteve parcialmente esta “onda” de capital especulativo.
Mas parcialmente, porque mundo dos investimentos financeiros é uma “esponja”, cheio de vasos que se comunicam e se transferem de um ponto a outro.
Este binômio – dívida externa privada vs. dívida pública cara – é uma das maiores perversidades da economia brasileira.
E , também, uma de suas maiores contradições. Porque o capital para movimentar e fazer crescer a economia, para quem pode toma-lo em dólar lá fora – e só os grandes podem – é barato, pelos altos juros. Mas para a população e para os pequenos e médios empreendedores, que não têm como captar no exterior, é inviavelmente caro.
Com a permeabilidade que a economia mundial tem hoje, com a possibilidade crescente de se financiar no exterior, a juros muito baixos, pelos setores empresariais de maior porte, dominantes na vida econômica, a ideia de que juros altos “desaceleram” a economia é de validade limitada e, sobretudo, seletiva.
É por isso que o estabelecimento de controles cambiais, para as economias emergentes – Brasil entre elas – está longe de ser uma posição de natureza ideológica, de restrição aos capitais estrangeiros. Passou a ser uma necessidade imperiosa , para limitar um processo que, na próxima e inevitável crise, pode derrubar a única parte da economia mundial que consegue crescer hoje.

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