quarta-feira, 8 de junho de 2011

Soberba x Prestação de Contas – as lições da queda de Palocci

extraído do Blog SUL21, de 08/06/11

Depois de resistir durante 24 dias sob o fogo cruzado da imprensa, da oposição e das próprias hostes aliadas, caiu, ontem, Antônio Palocci. Para o seu lugar foi indicada a senadora de primeiro mandato Gleisi Hoffmann (PT-PR), que tomará posse no dia de hoje (08), às 16 horas.
Tido como o homem forte do governo Dilma Rousseff, indicado e bancado pelo ex-presidente Lula, Antônio Palocci sai enfraquecido e, possivelmente, encerra, com este episódio, sua vida pública. Toma posse, em sua substituição, a décima ministra do governo Dilma, fortalecendo a presença feminina no ministério, o perfil técnico de gestão e a idéia de que é a presidenta quem comanda o seu próprio governo.
Considerado um hábil político e excelente negociador, Antônio Palocci viu-se obrigado a se retirar de dois governos consecutivos e a entregar áreas chaves de comando, em ambas as situações por se envolver em episódios obscuros e por não conseguir dirimir cabalmente as suspeitas que se levantaram sobre ele.
Novata no parlamento, Gleci Hoffmann não adquiriu ainda traquejo político suficiente para o domínio das articulações e barganhas que o cargo de Ministra Chefe da Casa Civil da Presidência da República exige. Gestora competente, conforme atestam suas atuações no governo do Mato Grosso do Sul e na diretoria financeira da Hidroelétrica Itaipú Binacional, a nova ministra terá como principal tarefa a articulação técnica dos diferentes ministérios, exercendo papel semelhante ao desempenhado por Dilma Rousseff no governo Lula. Ficará descoberta, no entanto, a tarefa de mediação política, imprescindível para o bom desempenho de qualquer governo.
Todos os atributos políticos computados em favor de Antônio Palocci, aos quais se devem somar também os de possuir bom trânsito entre os empresários e se constituir em uma espécie de fiador do governo Dilma Rousseff perante os setores econômicos mais conservadores, foram insuficientes para garantir sua permanência no ministério. Sua saída deixa aberta uma lacuna no plano político que precisará ser preenchida urgentemente, possivelmente com a indicação de um novo titular para Secretaria de Assuntos Institucionais da Presidência da República.
Diferente do governo Lula, no qual o próprio presidente exercia as funções de articulador político podendo, assim, manter na chefia da Casa Civil uma técnica e excelente gestora sem grande habilidade política, como Dilma Rousseff, no atual governo, a tarefa de articulação política precisará sempre ser confiada a alguém especializado nesta função.
Que a presidenta Dilma Rousseff tenha em mente, entretanto, que o papel de articulador político de um governo de transformação, como se propõe ser o seu, não pode ser exercido por alguém que detenha apenas a capacidade de negociar e de transitar entre as diferentes forças políticas e econômicas. É preciso também que o mediador político de um governo deste tipo, mais do que qualquer outro integrante da equipe de governo, seja alguém que não se deixe encantar pelos cantos das sereias, que não se contamine pela soberba e que nem de longe acredite que pode se valer dos conhecimentos adquiridos e dos acessos abertos pelo cargo para obter vantagens pessoais.
Em uma democracia, e principalmente em um governo que pretende aprofundar o processo de transformação social em curso no Brasil, é preciso ainda que o encarregado das negociações políticas seja alguém disposto a prestar contas integrais e imediatas de seus atos, tanto os praticados no exercício de suas funções públicas quanto os exercidos no âmbito de sua vida privada, mas que mantenham relação com a sua atividade governamental. Agir de modo diferente é dar armas aos adversários e alimentar as possibilidades de deflagração de crises políticas que perturbam o governo e atrasam a execução das reformas almejadas.

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