sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Aprovação de Dilma sobe de 67% para 71%, aponta Ibope

Sandro Lima Do G1, em Brasília

A presidente Dilma Rousseff é aprovada por 71% dos eleitores, de acordo com pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada nesta sexta-feira (30). A pesquisa tem margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, o que significa que a aprovação da presidente pode ser de 69% a 73%.
Na comparação com levantamento realizado em julho e divulgado em agosto, a aprovação da presidente subiu quatro pontos percentuais - o índice era 67%.
Dos entrevistados na pesquisa atual, 21% disseram desaprovar a presidente e 8% não souberam ou não responderam. O percentual de desaprovação em julho, que era de 25%, caiu quatro pontos percentuais conforme o Ibope.
Entre 16 e 20 de setembro, o Ibope ouviu 2.002 eleitores com 16 anos ou mais em 141 municípios de todas as regiões do país.
Governo
A aprovação do governo Dilma também subiu entre julho e setembro. O percentual de entrevistados que consideram o governo ótimo ou bom aumentou de 48% para 51%. Segundo o levantamento, 11% consideraram o governo Dilma ruim ou péssimo, contra 12% na pesquisa anterior.
As expectativas com relação ao restante do governo Dilma continuam positivas, segundo a pesquisa, e praticamente no mesmo nível da pesquisa anterior. O percentual de entrevistados que acreditam que o restante do governo será ótimo ou bom passou de 55% para 56%.
A região Sul passou a ter o mais alto percentual de ótimo ou bom: 57%, a maior entre os entrevistados. Também houve crescimento da avaliação positiva na região Sudeste. Nas regiões Norte/Centro-Oeste e Nordeste houve queda na avaliação positiva da presidente.
A pesquisa aponta que a avaliação do governo é melhor entre os mais velhos, com 50 anos ou mais. Dentre os entrevistados nesta faixa etária, 55% consideram o governo ótimo ou bom. A avaliação também é melhor nas pequenas cidades e nos interior dos estados. O levantamento mostra ainda que quanto menor o nível de renda familiar do entrevistado, melhor a avaliação do governo Dilma.
O tema corrupção foi o assunto mais citado, com 19%, enquanto 13% citaram a 'faxina' contra a corrupção promovida pela presidente
Corrupção
O tema corrupção foi o assunto mais lembrado pelos eleitores quando perguntados sobre as notícias do governo Dilma publicadas nas últimas semanas. Denúncias de corrupção foram citadas por 19% dos entrevistados e 13% citaram a “faxina” contra a corrupção promovida pela presidente.
Entre o fim de julho, quando a última pesquisa foi realizada, e o fim de setembro, data da pesquisa atual, dois ministros deixaram o governo por suspeitas de envolvimento em corrupção: Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo.
Nelson Jobim saiu da Defesa após a crise política motivada por declarações – que ele nega ter dado – de que as colegas de ministério Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) eram “fraquinhas".
A terceira notícia mais citada, com 10%, foi sobre os investimentos para obras da Copa do Mundo, tais como reforma e construção de estádios e privatização de aeroportos. Os atrasos no cronograma das obras foram citados por 6% dos eleitores.
Governos anteriores
A avaliação do governo Dilma no primeiro mês de setembro do mandato é superior a de seus antecessores – Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso – em igual período do mandato. O percentual de entrevistados que considera o governo Dilma ótimo ou bom é de 51%. Lula teve 43% no primeiro mandato e 48% no segundo mandato. FHC registrou 40% no primeiro mandato e 16% no segundo mandato.
A aprovação da presidente Dilma também é maior que a de Lula e FHC no mesmo período. Lula teve aprovação de 69% no primeiro mandato e de 63% no segundo. FHC foi aprovado por 57% dos eleitores no primeiro mandato e 26% no segundo. Dilma tem 71% de aprovação.


 

Para procuradoria, demarcação de terras quilombolas deve ser prova de Brasil plural

Matéria reproduzida em: Rede Brasil Atual, em 29/09/11.
 
São Paulo – A vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, manifestou nesta quinta-feira (29) que a ação apresentada pelo DEM contra a demarcação de terras quilombolas dará ao Supremo Tribunal Federal (STF) a oportunidade de mostrar que o "Brasil é, de fato, um país plural em termos étnicos e culturais".
Durante audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara Federal, ela manifestou contrariedade à Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 3.239, que contesta a diferenciação na titulação de áreas remanescentes do período da escravidão. "Quando se trata de direitos de comunidades indígenas e quilombolas, nós estamos na categoria dos direitos fundamentais, que são de aplicação imediata e indisponíveis."
O direito ao território em que vivem antigos moradores de quilombos é reconhecido pela Constituição Federal de 1988 e foi regulamentado em 2003, por meio de decreto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Os quilombolas existem, são uma realidade do presente. Não foi algo que se perdeu no passado. Para que sua existência física e cultural esteja garantida, é preciso assegurar esses territórios", acrescentou Deborah Duprat. 
"É preciso que o Supremo sinta os dramas que estão também por trás de negativas de direito, o que significará voltar atrás na questão quilombola, não permitindo a titularização das suas terras", enfatizou a vice-procuradora. Ela foi indicada na última semana pela Associação Nacional dos Procuradores da República para ocupar a vaga da ex-ministra Ellen Gracie no STF. O ofício entregue à presidenta Dilma Rousseff apoiava ainda a nomeação de Ela Wiecko, também sub-procuradora-geral. 
O debate na Câmara foi convocado pelo deputado Amauri Teixeira (PT-BA), que lembrou que a vida dos quilombolas se organiza em torno da terra, responsável pela preservação da cultura e das tradições. 
O presidente do Conselho Quilombola da Bahia, Valmir dos Santos, disse que as comunidades não admitem a derrubada do decreto. "Se não tiver terra, não tem como construir sua habitação, tirar o próprio sustento, não tem educação, não tem saúde. Isso para a gente é inadmissível!", declarou.
Os representantes de terras quilombolas presentes à audiência reclamaram ainda da demora em receber a titularidade de glebas já reconhecidas. O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lisboa, se defendeu: "A morosidade ocorre porque há uma demanda reprimida de 500 anos, desde que começou a vir escravos para o Brasil. Essa dívida do país com os negros começou a ser reparada agora."

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dilma, a estadista

extraído do blog Sul 21 de 27/09/11

por Marcelo Carneiro da Cunha

Pois foi com uma razoável dose de surpresa que vi a minha, a sua, a nossa Dilma estreando em horário nobre mundial para abrir a Assembléia Geral da ONU na semana passada. Ao vê-la falar, tirei da carteira uma foto da Dilma candidata que eu guardo, todos vocês também, evidentemente, para esses momentos. Não era a mesma pessoa, não era a mesma persona, caros leitores.
A Dilma candidata passou boa parte da campanha tentando compreender o que fazia ali, e por que ela. A Dilma da campanha era alguém com um senso de missão que a fazia aceitar o que para ela parecia doloroso. Mas também era alguém em claro desconforto com o modelito e com o discurso, que saía rangendo com a naturalidade de um cigano Igor nos bons tempos. Dilma candidata era uma biografia e uma capacidade muito maiores do que o momento, e talvez por isso mesmo, em descompasso com ele. Mais: Dilma é claramente alguém movido pela ética pessoal, alguém que não sente a falta de escrúpulos que torna a direita uma vencedora natural nas carnificinas das campanhas políticas.
Aquela Dilma vacilou no momento em que as igrejas, tanto a oficial e católica quando as outras, ainda mais malucas, vieram com tudo, no final do primeiro turno. Ali, na hora de peitar aquele bando, ela hesitou, sem dúvida a conselho dos mais experientes em batalhas desse tipo e que pensam em votos, talvez não tanto em consequências.
Aquela Dilma que se apresentou diante da ONU teria hesitado diante da barbárie do primeiro turno? Aposto aqui todas as minhas bolas de gude que não, não teria. Teria enfrentado e teria vencido, e afastado por um bom tempo a ameaça fundamentalista, que segue por aí esperando 2012.
Porque a presidente Dilma Rousseff que falou para a ONU é outra Dilma. Dizem que aquela cadeira presidencial faz da pessoa que senta nela uma outra pessoa. Ou ela desaba sob o efeito de forças obscuras e engarrafadas, como o nosso desastroso Jânio, ou ela perde a noção do que é ou não pecado abaixo do Equador, como no caso do ex-presidente Collor. Ou ela adquire uma nova dimensão sob o sentido da História, como no caso do nosso estimado e subestimado Itamar Franco. Ou ela cumpre o seu destino, como foi o caso de FHC, de Lula, e talvez seja o caso de Dilma Rousseff.
Eu sou um daqueles brasileiros que se jogava debaixo de uma mesa para não ver os nossos presidentes falando a quem quer que fosse. Em primeiro lugar, porque na maior parte da minha vida ou eles eram generais, ou eram o Sarney, ou o Collor.
É recente a sensação de poder assistir sem chorar ou morrer de vergonha, e, caros leitores, ela é ótima. Ver como somos percebidos lá fora é sim agradável, mesmo que isso não descreva a realidade que vivemos aqui dentro. Voltei agora de uma viagem até Berlim e outra até Caracas, e sair do Brasil hoje é ver a diferença que foi estabelecida e consolidada a partir do governo Lula.
Pois o discurso da nossa presidente diante da ONU mostrou tanto uma nova Dilma quanto um novo Brasil. Falamos basicamente mais coisas certas do que qualquer outro governo no mundo todo. Falamos, através da nossa presidente, que o mundo de hoje não pode mais viver das fórmulas do passado. Falamos que estamos fazendo o que podemos e devemos, e que os demais devem fazer o mesmo. Falamos que somos pacíficos, e se não fôssemos, a América do Sul seria muito pior do que é, e com muito menos chances de se tornar o continente que ela vai se tornar. Falamos o óbvio, que está na hora de a Palestina receber a justiça que merece e tarda demais. Quem mais falou o mesmo, ou com tanta clareza e qualidade? Em contraste, o presidente Obama não falou, gaguejou.
Dilma, a presidente, se não falou com a oratória que consagrou grandes estadistas, Lula inclusive, falou com a qualidade que diferencia o estadista dos políticos. Dilma tem a coisa, caros leitores. Aquela visão que faz a gente ir além quando o mundo não está exatamente exigindo isso da gente. Aquela convicção que aparece nos olhos e nos braços. Dilma pode vir a ser sim, muito mais do que a primeira mulher presidente do Brasil, e isso ficou claro para mim na semana passada. Talvez tenha ficado mais claro para o mundo também.
Nós, brasileiros, temos sorte e algum juízo. Soubemos criar uma política que não é perfeita – porque isso nem mesmo eu, esse neto da minha avó Jovita, sou – mas se mostra funcional, noves fora histerias. Temos tido bons ou ótimos governantes e temos caminhado de um jeito que transforma uma boa parte do possível em real. Nossos enormes problemas seguem aí em toda parte, mas pela primeira vez parece que temos chance de dar conta deles, em uma ou duas gerações. Nada como regressar da Venezuela para apreciar a diferença que isso faz, caros leitores.
A semana passada me deixou uma sensação forte e a qual divido com meus estimados sulvinteumenses. Agora, e sim, pra valer, é Dilma. E a viagem está apenas começando

domingo, 25 de setembro de 2011

Tucanos geniais: sucesso de Lula foi obra de FHC!

publicado no blog tijolaco.com, de Brizola Neto




Incrível, fantástico, extraordinário. Numa impressionante autocrítica sobre sua “obra”, o PSDB, segundo matéria de O Globo, acha que a principal razão de vir perdendo as eleições é ter escondido a figura de Fernando Henrique Cardoso.
Sim, porque isso permitiu que “o PT se apropriasse do que fizemos”, segundo o luminar – como foi mesmo que Lula o classificou? – Sérgio Guerra, que lamenta o fato de “durante dez anos” os tucanos não terem defendido o que fizeram.
Vejam como são bobinhos estes tucanos. Porque será que não defenderam o que fizeram, e duante dez anos?
Esqueceram-se? Não tiveram tempo? “O rapaz faltou”? O marqueteiro não se lembrou?
Sim, porque na genial avaliação feita pelo tucanato não entra o fato de que o esconderam porque ele era rejeitado pela imensa maioria da população. Ou o povo idolatra FHC, apóia o atoleiro em que ele manteve o Brasil, entusiasma-se com a privatização e a entrega do patrimônio público, etc…
O exemplo que usam é – “60% dos brasileiros atribuírem a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) aos petistas, esquecendo-se que eles votaram contra a proposta” –  é uma rematada tolice, até porque 60% dos brasileiros nem sequer ouviram falar na LRF.
Quem quiser conferir pode acessar aqui a pesquisa feita, ano passado, pela empresa Foco, por encomenda da Scola Superior de Administração Fazendária,  que mostra que só 39% das pessoas entrevistadas tinham ouvido falar na LRF em todo o Brasil. A pesquisa está aqui, e você pode conferir na página 91.
Mas tomara que os tucanos acreditem mesmo no que estão dizendo e resolvam fazer de FHC o carro chefe de suas campanhas e o símbolo do que representam. Não ganham nunca mais uma eleição.

Não somos racistas?

publicado no Cão Uivador, em 25/09/11

“Ser de esquerda hoje é ser crítico em relação a todas as formas de dominação, sobretudo às sutis.” (Pierre Bourdieu)
Essa semana, reparei que tinha um monte de gente indignada com o deputado gaúcho Edson Portilho, autor de uma lei que permite a tortura indiscriminada de animais. Terrível!
Ora, terrível mesmo é gente que sai repassando qualquer coisa sem checar a informação. Bastaria fazer uma busca na internet para descobrir que a lei realmente existe, mas foi aprovada em 2003 (atrasadinha essa “indignação”, né?) e que ela não autoriza tortura em animais, mas sim versa sobre a utilização destes em rituais de religiões de matriz africana. E além disso, Edson Portilho não é mais deputado desde 2006 (e era apenas estadual) – atualmente, é vereador em Sapucaia do Sul. Ah, e se é lei, quer dizer que passou por votação parlamentar, então é uma estupidez atacar apenas ao autor, pois outros deputados também votaram favoravelmente.
Pode-se muito bem discordar da lei, que permite o sacrifício (sem que seja de forma torturante) de animais voltados à alimentação humana. Mas é dose ter de aturar desinformação.
E pior ainda, é que não percebo tamanha “indignação” com questões mais atuais – e mais perigosas. Como os crescentes ataques à laicidade do Estado brasileiro, e mesmo à democracia, por parte de deputados como Jair Bolsonaro e pastores evangélicos.
Afinal, é graças a esse pessoal que as mulheres não têm direito a abortar, que homossexuais sofrem constante discriminação (e também são atacados fisicamente, e mesmo assassinados), que criticar piadas preconceituosas é considerado “patrulha ideológica”, que defender “minorias” estabelece uma “ditadura”… Tudo em nome de uma tal “família brasileira” (formada apenas por brancos, heterossexuais e cristãos; e obviamente “chefiada” por um homem, jamais por uma mulher), além, é claro, da velha dupla “moral e bons costumes” (quem definiu o que é “moral” e o que é “imoral”?).
Aí, se tenta aprovar uma lei que prevê a criminalização da homofobia, e vêm os caras dizer que “é um atentado à liberdade religiosa”… A mesma liberdade que têm os seguidores de religiões afro-brasileiras de expressarem a sua fé. Se sacrificar animais em um ritual religioso é “maldade”, por que uma pregação religiosa cheia de ódio ao diferente não é?
Mas, segundo Ali Kamel, não existe racismo no Brasil… E o pior é que não falta quem acredite nisso.

Tucanos e sua pesquisa sobre Dilma

publicado no blog Correio do Brasil, em 24/09/11.

 Por José Dirceu - de São Paulo

pesquisa
Pesquisa indica que Dilma venceria as eleições, se fossem hoje, ainda no primeiro turno

Num cantinho do site de O Globo há a menção de uma pesquisa encomendada pelo alto tucanato. Se os candidatos de 2010 fossem os mesmos, um pleito presidencial hoje daria à presidenta Dilma Rousseff condições de ser eleita, com folga, já no primeiro turno. Veja também a menciona, mas omite os números.
Voltando a esses mesmos tucanos – divididos e confusos, procurando se apegar e adotar uma bandeira que não têm autoridade para empunhar… A própria pesquisa sobre as intenções de voto de eleições presidenciais, caso se dessem hoje, explica o estado catatônico do PSDB e de toda oposição: Dilma teria 59% dos votos, José Serra apenas 25%. Também perderia votos a candidatura de Marina Silva (ex-PV), de 19,3% para 15%.
Outro dado revelador da pesquisa que tem como objetivo orientar o tucanato: para os entrevistados, o governo FHC ganha o primeiro lugar em matéria de tolerância com a corrupção. Recentemente, em levantamento realizado para o mesmo PSDB, verificou-se nada menos do que 67% aprovam o programa Bolsa Família. Estudos encomendados pelo partido têm dito o que já sabemos há muito tempo:o distanciamento do discurso do partido das expectativas da população.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Porongos e Lanceiros

Mais uma vez o desfile temático "noturno", que pretende ser maior que o carnaval do RS ( nas palavras do Presidente do MTG a semana passada e também nas palavras do então Secretário de Turismo, Luis Augusto Lara, em 2003/2004) e rivalizar com Parintins adotou a prática de representar a Etnia Negra com atores e atrizes pintados de "preto".
Ora, isso é DESRESPEITAR A ETNIA NEGRA e, guardadas as proporções, é reviver a BATALHA DE PORONGOS PRATICANDO MAIS ASSASSINATO EM MASSA.
Será que esses episódios não são suficientes para conscientizar nossos irmãos de que não temos nada COM ESSA COMEMORAÇÃO DA DERROTA FARROUPILHA.
Até quando as entidades carnavalescas se prestarão a prestigiar e ajudar um evento que UTILIZA MÉTODOS que remontam as décadas de 20/30 do século passado, quando o Cinema se valia de atores pintados de preto.
Lembremo-nos a polêmica havida, em 2005, quando do envolvimento dos carnavalescos com o desfile farroupilha. Para quem não lembra os tradicionalistas diziam que estavam "carnavalizando o desfile farroupilha".
Quem acha que a transferência do desfile temático para a noite e dia diferente do "desfile oficial de cavalgadas e piquetes" foi para melhorar o mesmo se engana. Na verdade foi a forma de separar o "desfile carnavalizado" do "desfile tradicional", para manter "pura a tradição".
Por fim, os afrodescendentes que pensam reverenciar e homenagaer os "Lanceiros Negros" juntando-se  aos que não reconhecem o MASSACRE DE PORONGOS estão profundamente enganados e iludidos.
Prestariam melhor serviço à memória daqueles HERÓIS ASSASSINADOS se ORGANIZASSEM UMA ATIVIDADE NA DATA Da OCORRÊNCIA DA BATALHA DE PORONGOS  E DISTANTE DA CONVIVÊNCIA DAQUELES QUE REPRODUZEM A IDEOLOGIA DOS "SENHORES E PATRÕES ESTANCIEIROS"

 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nunca antes na História deste País

No encerramento desta quarta-feira, 21/09, é díficil fugir de uma daquelas expressões chamadas chavões. Mas, felizmente, para  nós brasileiros este dia FOI REALMENTE HISTÓRICO.
Pela manhã, a presidenta Dilma Rousseff abriu a Assembleia Geral da ONU, como tradicionalmente é reservado aos presidentes brasileiros.
Foi a primeira mulher a ter essa oportunidade e usou o espaço com brilhantismo e naturalidade. Como não poderia deixar de ser, dedicou o momento vivido a todas as mulheres do mundo. Igualmente, aproveitou para defender o estado Palestino e a defender um espaço maior aos países emergentes na solução da crise financeira mundial. Evidentemente, foi um momento ímpar.
A noite a Câmara dos Deputados, em outro momento histórico e esperado, aprovou a Comissão da Verdade destinada a investigar e elucidar os crimes cometidos durante a ditadura militar. O Brasil assim dá mais um passo no reconhecimento e no esclarecimento de sua história.
Este é um daqueles dias em que o orgulho de ser brasileiro fala mais alto, independente de ter ajudado a construir esse governo.
 
 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Os Protestos Contra a Corrupção

publicado no Blog do Noblat, em 21/09/11.


Nos primeiros dias de julho, o correspondente no Brasil do jornal espanhol El País escreveu um artigo que teve larga circulação. Seu título era uma pergunta: “Por que os brasileiros não reagem?”
Para o autor, seríamos um mistério. Como, passados seis meses do início do governo Dilma, com dois ministros demitidos, “ambos caídos sob os escombros da corrupção política”, não teríamos o fenômeno, “hoje em moda no mundo”, dos indignados? Por que não irrompe um movimento “capaz de limpar o país das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder?”.
Se voltasse agora ao tema, sua perplexidade seria maior. Pois já são quatro os ministros que saíram em meio a questionamentos sobre sua conduta no cargo.
Todos, de uma forma ou outra, se comportaram de maneira inconveniente, mesmo se não seria justo dizer que sucumbiram “sob os escombros da corrupção” (para repetir uma expressão curiosa do jornalista, que sugere que a corrupção teria “desmoronado”, ou seja, sido destruída).
Aceitar carona no avião de empresários (ou usar um motorista da Câmara dos Deputados para funções domésticas) não é correto, mas está longe de ser evidência de andar abraçado com “as escórias da corrupção”.
Não só aumentaram os casos de ministros flagrados fazendo coisas erradas como dezenas de funcionários graduados de diversos órgãos foram demitidos, muitos por suspeita de práticas criminosas. Alguns acabaram detidos e fotografados no xilindró.
Mais combustível, portanto, para os indignados. Que deveria encontrá-los ainda mais dispostos a se indignar, pois essa “moda” não terminou de julho para cá. Pelo contrário. Até em Wall Street, onde menos se esperaria vê-los, surgiram indignados.
O pasmo do correspondente deveria crescer se ele se lembrasse que, neste setembro, foram muitas as iniciativas de mobilizar as pessoas para ir às ruas protestar contra a corrupção. A começar pelo 7 de Setembro, quando a oportunidade parecia ótima: transformar a comemoração do aniversário do Grito do Ipiranga no dia do “grito contra os corruptos”.
A contabilidade do que ocorreu revela quão pequena foi a adesão ao chamamento dos organizadores. Embora falem em 30 mil manifestantes, até eles admitem que 25 mil eram de Brasília (onde a irritação era grande, dado o caso Jaqueline Roriz).
Ou seja, nos outros lugares onde estavam convocados protestos - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre - teriam sido apenas 5 mil pessoas, uma média de 1,25 mil por cidade. O que é pouco.
Para quem esperava uma Praça Tahir, uma decepção. A mobilização foi modesta e fugaz.
Não foi por eles não saberem usar a ferramenta básica dos indignados mundo afora: as redes sociais. Tanto no 7 de Setembro, quanto nos dias a seguir, muita gente se utilizou delas para disseminar ideias e convocar pessoas.
A mídia deu a esses esforços espaço maior do que seu tamanho justificava. Tornaram-se assunto dos principais jornais, a televisão os cobriu, seus organizadores deram entrevistas às rádios e portais. Mas não adiantou.
Há quem continue a apostar que os indignados vão surgir. São os que insistem em analogias sem sentido, torcendo para que os protestos de agora ganhem corpo e reproduzam o que foram, nos anos 1980, as manifestações em favor das eleições diretas e, nos 1990, o impeachment de Collor.
O problema é que as movimentações atuais carecem de algo essencial. O ambiente pode lhes ser propício. Há estímulos internacionais. A mídia as trata com simpatia. Seus organizadores conhecem os instrumentos para provocá-las.
Mas falta povo. E continuará a faltar-lhes enquanto forem claramente identificadas com a elite conservadora e os políticos da direita.
O povo é contra a corrupção. Mas não é a favor de quem apenas por conveniência empunha a bandeira de acabar com ela. E continua a confiar em que o governo (no qual votou há menos de um ano) a enfrente.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Universidades públicas do Brasil já possuem 110 mil alunos cotistas

matéria publicada no clipping da SEPPIR em 20/09/11.
 
O Senado Federal debateu nesta segunda-feira, 19 de setembro, os dez anos de implantação de sistemas de cotas raciais no ensino superior, que começou em 2001, voltada para as universidades estaduais do Rio de Janeiro. Segundo levantamento da ONG Educafro, 110 mil negros foram beneficiados pelos sistemas de cotas e tiveram acesso a universidades públicas do país nesses anos. Para os participantes do debate, as ações afirmativas mostraram-se bem-sucedidas ao promover a inclusão significativa da população negra no ensino superior público.
O reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Sousa Junior, fez parte da mesa de discussão.
A UnB foi a primeira universidade federal a implantar o sistema e recebeu homenagens pelo pioneirismo durante o debate. Para o reitor, a UnB tem o mérito de ter construído a própria política, que garante 20% das vagas para estudantes negros desde 2004. "Não dependeu de determinação externa, nem de leis. Foi uma criação da própria comunidade", ressaltou. "A UnB já possui 5.396 alunos negros que ingressaram no vestibular por meio do sistema de cotas e o que se verifica é que a diferença entre as notas dos estudantes cotistas e não-cotistas é percentualmente insignificante". José Geraldo ressaltou ainda que a evasão entre os cotistas é menor. "A universidade ficou mais colorida depois que adotou o sistema".  
O reitor destacou a identidade étnica da Universidade de Brasília, que acredita “ser mais fiel ao o recorte social amplo”. “Do ponto de vista cultural, a UnB ganhou relevância temática nas discussões e nos temas que circulam no ambiente acadêmico”, pontuou. “Nós, com isso, realizamos uma projeção de presença na sociedade de um contingente que contribui pra o desenvolvimento e que, antes, estava excluído dessa participação”.
Estavam presentes também os senadores Paulo Paim (PT-RS), Marinor Brito (PSOL-PA) e Paulo Davim (PV-RN), o diretor-executivo da Educafro, Davi Santos, a secretária de Políticas Afirmativas da Presidência da República, Anhamona Silva de Brito, a diretora de Gestão Acadêmica da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat), Elisângela Moreira da Costa, o secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação, Luiz Cláudio Costa.
Luiz Cláudio Costa manifestou apoio às ações afirmativas e demonstrou a preocupação do MEC em manter esses estudantes nas universidades, com a destinação de R$ 505 milhões por ano para políticas de assistência estudantil. Segundo o secretário, o ensino superior do Brasil forma atualmente um milhão de pessoas por ano, 700 mil a mais do que em 2002, quando a marca era de 300 mil formados.
A diretora de Gestão Acadêmica da Unemat, Elisângela Patrícia Moreira da Costa, afirmou que a instituição já nasceu "com a marca da inclusão", porque surgiu em 1978, no interior do estado, como Instituto de Ensino Superior de Cáceres. Virou universidade em 1993 e adotou o sistema de cotas a partir de 2004. Segundo a diretora, a universidade acompanha o desenvolvimento dos cotistas desde a inscrição no vestibular até a formatura.
Quando a mesa abriu o debate para o público, a militante do movimento negro Solange Aparecida Ferreira de Campos, a primeira brasileira beneficiada com bolsa do Prouni, relatou a experiência dela com as cotas. Solange entrou para o curso de Gastronomia na Universidade Anhembi Morumbi, uma instituição privada, quando já tinha 45 anos, e formou-se em 2008. Na opinião dela, é obrigação dos governantes brasileiros apoiar o acesso à educação da população negra. "Nossos ancestrais negros deram o sangue por esse país", afirmou. "Se tivemos força para levar chibatadas nas costas, também temos força, competência e capacidade para ocupar qualquer cargo e exercer qualquer atividade e trabalho".
Com informações da Agência Senado.
UnB Agência

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dilma será primeira mulher a falar na abertura da Assembleia da ONU

publicado no Blog Política para Políticos

A presidente Dilma Rousseff na sua viagem aos Estados Unidos, ontem iniciada, deverá abordar a atual situação do Brasil diante de um cenário de crise econômica mundial. Primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU, quarta-feira, Dilma pretende mostrar as políticas usadas pelo Brasil para vencer dificuldades econômicas do cenário internacional, apontando a ascensão dos mais pobres à classe média. No plano internacional, ela deverá reforçar a posição do Brasil sobre a questão palestina, já que em dezembro o país reconheceu a existência do Estado Palestino. O Brasil reconheceu o Estado Palestino em carta enviada pelo ex-presidente Lula à Autoridade Nacional Palestina. Nas conversas que terá com os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama; da França, Nicolas Sarkozy; do México, Felipe Calderón; e da Nigéria, Goodluck Jonathan; assim como com o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, entre outros, deverá defender medidas comuns de combate à desigualdade social, com políticas de inclusão, apontando os programas de transferência de renda do Brasil como alternativa. E pretende, em seu discurso, mencionar os efeitos da crise econômica internacional, a preocupação com os conflitos nos países muçulmanos, a necessidade de adotar medidas que levem ao desenvolvimento sustentável e a defesa da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, segundo informam seus assessores.

Presidente Dilma Rousseff é destaque na capa da Revista Newsweek

Conferência Rio +20

A Conferência Rio+20, que será realizada de 28 de maio a 6 de junho de 2012, no Rio de Janeiro está também na pauta de Dilma. Pretende destacar que será a maior conferência mundial sobre preservação ambiental, desenvolvimento sustentável e economia verde, definindo um novo padrão para o setor. Dilma e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, deverão participar também das reuniões bilaterais com chanceleres do Brics – Brasil, pela Rússia, Índia, China e África do Sul – e do G4, integrado pelo Brasil, pela Alemanha, Índia e Japão, países que defendem a ampliação dos assentos no Conselho de Segurança e querem ter um lugar permanente no órgão. Cinco ministros acompanham Dilma, o das Relações Exteriores, Antônio Patriota; o da Saúde, Alexandre Padilha; o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel; o do Esporte, Orlando Silva, e a da Comunicação Social da Presidência da República, Helena Chagas. A viagem dura cinco dias e vai incluir uma reunião com o presidente Barack Obama, além de outros chefes de Estado.

Encontros

Hoje a presidente brasileira se encontra com Michelle Bachellet, ex-presidente do Chile e chefe da agência ONU Mulher. Em pauta a participação das mulheres em ações políticas e institucionais no mundo. Terça será o dia do encontro com Obama. Deverá receber também o prêmio Woodrow Wilson para Serviços Públicos, concedido pelo instituto Woodrow Wilson International Center for Scholars, que já foi outorgado ao ex-presidente Lula e à médica e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns. Também na agenda a presença nos debates do grupo denominado Governo Aberto, que engloba 60 países que se comprometem a discutir e executar políticas públicas transparentes.

domingo, 18 de setembro de 2011

Governo vai ampliar Bolsa Família


publicado originalmente no blog do Cláudio Humberto, de 18/09/2011

Foto MIN. TEREZA CAMPELO
A ministra Tereza Campelo (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) vai anunciar amanhã (19) a ampliação do número de beneficiados do Programa Bolsa Família. Dentre as mudanças, o governo pretende aumentar o número máximo de filhos por família atendida, de três para cinco, para que até o final de 2013 o projeto possa beneficiar 1,2 milhão de crianças e adolescente a mais do que são atendidos atualmente

Porque hoje é sábado, Leila Lopes

por MIlton Ribeiro, extraído do Blog Sul 21 de 17/09/11.


Fiquei irritado ao chegar em casa.

Ao invés de estudar,

minha filha assistia ao Miss Universo.

Mas vi aquelas cinco

e comecei a achar interessante

torcer pela negra.

O motivo era simples:

ela era a mais bela

e era angolana.

É um país envolvido com o materialismo básico da escola

do hospital, da estrada, do matar a fome, do tirar da miséria.

E ela ostentava (ostenta ainda)

uma cara incrível de brasileira,

pois nosso país — lembram? –

tinha a indignidade de importar gente de lá

que não queria vir para cá,

e que formaram nosso país com o que trouxeram

como o samba, a capoeira, a feijoada e tanta coisa que nem caberia aqui (como não coube).
Estatuinha (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri)
Se a mão livre do negro tocar na argila
O que é que vai nascer?

Vai nascer pote pra gente beber
Nasce panela pra gente comer
Nasce vasilha, nasce parede
Nasce estatuinha bonita de se ver

Se a mão livre do negro tocar na onça
O que é que vai nascer?

Vai nascer pele pra cobrir nossas vergonhas
Nasce tapete pra cobrir o nosso chão
Nasce caminha pra se ter nossa ialê
E atabaque pra se ter onde bater

Se a mão livre do negro tocar na palmeira
O que é que vai nascer?






Nasce choupana pra gente morar
E nasce rede pra gente se embalar
Nasce as esteiras pra gente deitar
Nasce os abanos pra gente abanar


O Estado e seus desafios na construção do desenvolvimento brasileiro

extraído de Carta Maior de 18/09/11

O sistema capitalista revela em suas crises periódicas momentos especiais de profunda reestruturação. São oportunidades históricas em que velhas formas de valorização do capital sinalizam esgotamentos, enquanto novas formas ainda não se apresentam plenamente maduras no centro dinâmico do mundo. Nessas circunstâncias, nada mais apropriado para países periféricos do que considerar as possibilidades reais e efetivas de assumir algum grau de protagonismo, até então impossibilitado pela antiga divisão hierárquica do poder mundial.

O Brasil, em especial, mostrou condições de aproveitar oportunidades históricas geradas durante momentos de profundas crises e de reestruturação capitalista mundial. Na Grande Depressão capitalista ocorrida entre 1873 e 1896, houve a sequência de um conjunto de reformas anteriormente reivindicadas. Destacam-se, por exemplo, a reforma eleitoral de 1881, que ampliou a representação nas províncias, a reforma trabalhista de 1888, que aboliu o trabalho escravo, a reforma política de 1889, que acompanhou a implantação da República, e a reforma jurídica estabelecida pela Constituição de 1891. Dado o conservadorismo da oligarquia rural, os esforços reformistas do fim do século XIX terminaram sendo contidos diante do ciclo de prosperidade proporcionado pela economia primário-exportadora, sobretudo a parte ancorada no café. O anacronismo da República Velha, acomodado pelo liberalismo, postergou a longa transição do agrarismo para a sociedade urbano-industrial.

Com a Grande Depressão iniciada em 1929, o Brasil experimentou mais uma vez uma onda de reformas até então inéditas no capitalismo primário-exportador. Pelas mãos de uma grande e heterogênea frente política liderada por Getúlio Vargas, o país avançou de modo signifi cativo na direção do desenvolvimento de suas forças produtivas urbanas, especialmente industriais, acompanhadas de avanços regulados por políticas sociais e trabalhistas aos ocupados formais nas cidades. Em menos de cinco décadas, o país tornou-se urbano e industrial, embora somente a metade de sua força de trabalho estivesse resguardada pelo sistema de proteção social e do trabalho, dada a postergação na realização das reformas clássicas do capitalismo contemporâneo (agrária, tributária e social).

Na crise atual do capitalismo globalizado, iniciada em 2008, o Brasil voltou a ter condições de protagonizar um novo salto desenvolvimentista, após a passagem de mais de duas décadas da regressão econômica e social e de sua contradição com a vigência do regime democrático sem paralelo em toda a sua história. Para isso, contudo, o país não deveria se perder em aspectos marginais, especialmente quando se trata de convergir para a consolidação de uma nova maioria política, capaz de sustentar o desenvolvimento brasileiro em novas bases econômicas, sociais e ambientais. Dois aspectos dessa perspectiva são tratados a seguir em relação ao papel do Estado brasileiro, como nos caso da presença do país no mundo e da reconfiguração socioeconômica interna. Antes disso, contudo, considera-se o movimento maior de reestruturação no centro do capitalismo mundial processado.

I. Crise e reestruturação capitalista
A crise mundial nesta primeira década do século XXI poderá ser ressaltada no futuro próximo por ter promovido as bases de uma nova fase de desenvolvimento capitalista. Isso porque a crise atual se apresenta como a primeira a se manifestar no contexto do capital globalizado, uma vez que as depressões anteriores (1873 e 1929) ocorreram num mundo ainda constituído por colônias (pré-capitalista) e na presença de experiências nacionais de economias centralmente planejadas.

A nova fase do desenvolvimento depende crescentemente da retomada do capitalismo reorganizado, após quase três longas décadas de hegemonia neoliberal. Os quatro pilares do pensamento único (equilíbrio de poder nos Estados Unidos, sistema financeiro internacional fundado nos derivativos, Estado mínimo e mercados desregulados) tornaram-se cada vez mais desacreditados. A reorganização capitalista mundial pós-crise deve apoiar-se numa nova estrutura de funcionamento. O tripé da expansão do capital consiste: (i) na alteração da partilha do mundo em função do policentrismo; (ii) na era da associação direta da ultramonopolização do setor privado com o Estado supranacional; e (iii) na revolução da base técnico-científica da produção e do consumo sustentáveis ambientalmente, conforme pode ser identificado na sequência.

Nova partilha do mundo
Com os sinais de fracasso do equilíbrio do mundo hegemonizado pelos Estados Unidos, após a queda do Muro de Berlim, tornou-se mais evidente o movimento de deslocamento relativo do centro dinâmico. Diferentemente da experiência anterior de transição da hegemonia inglesa para os Estados Unidos, consagrada pouco a pouco pela saída da crise de 1929, percebe-se hoje a possibilidade real do mundo pós-crise ser constituído pelo dinamismo policentrista. Ou seja, o fortalecimento de diversos centros regionais do desenvolvimento mundial.

Nos dias de hoje, os controversos sinais de decadência dos Estados Unidos parecem ser mais relativos do que absolutos, tendo em vista a desproporção econômica, tecnológica e militar ainda existente em relação ao resto dos países do mundo. Apesar disso, observa-se que no contexto de emergência da reestruturação no centro do capitalismo mundial ganham maiores dimensões os espaço mundiais para a construção de uma nova polaridade no sul da América Latina, para além dos Estados Unidos, da União Europeia e da Ásia.

No âmbito sul-americano, as iniciativas de coordenação suprarregional remontam ainda à instituição do Mercosul, mas têm ganhado impulso desde a recente articulação supranacional em torno da Unasul e do Banco Sur. Isso tudo, entretanto, não pode representar apenas iniciativas de vontades políticas, pois dependem cada vez mais de decisões governamentais mais efetivas, por intermédio de políticas públicas que procurem referendar o protagonismo de um novo centro regional de desenvolvimento.

Essa possibilidade real de partilha do mundo em novas centralidades regionais implica – além da coordenação de governos em torno de Estados supranacionais – aceitação da parte dos Estados Unidos de uma reestruturação interna. Do contrário, cabe resgatar o fato de a fase de decadência inglesa desde a Primeira Guerra Mundial ter sido demarcada por grandes disputas econômicas e, sobretudo, militares entre as duas principais potências emergentes da época: Estados Unidos e Alemanha. Ao mesmo tempo, a reação sul-americana à condição de economia exportadora de commodities para a China termina por equivaler ao retorno de uma situação que predominou até o início do século XX: a de exportadora de bens primários para a Inglaterra.

Inédita relação do Estado com a ultramonopolização privada
Na passagem para o século XXI, o modelo de globalização neoliberal produziu, entre outros eventos, uma inédita era do poder monopolista privado. Até antes da crise mundial, não havia mais do que quinhentas corporações transnacionais com faturamento anual equivalente a quase a metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

No contexto pós-crise, tende a ser um contingente ainda menor de corporações transnacionais a governar qualquer setor de atividade econômica, o que pode resultar numa ultramonopolização privada sem paralelo histórico. Essa realidade possível faz com que os países deixem de ter empresas para que empresas passem a ter países.

A ruína da crença neoliberal explicitada pela crise atual tornou profundamente desacreditadas tanto a vitalidade dos mercados desregulados quanto a suficiência do sistema financeiro internacional assentado nos derivativos. Por isso, espera-se que algo de novo surja das práticas de socialismo dos ricos praticadas na crise mundial por intermédio das enormes ajudas governamentais às corporações transnacionais (bancos e empresas não financeiras).

A maior interpenetração governamental na esfera dos altos negócios ultramonopolistas do setor privado global pode dar lugar ao fortalecimento de Estados supranacionais, o que poderia alterar as condições gerais de produção dos mercados (regulação da competição intercapitalista e apoio ao fi nanciamento das grandes empresas). Em resumo, percebe-se que a viabilização do capital ultramonopolista global tende a depender crescentemente do fortalecimento do Estado para além do espaço nacional.

Diante da maior instabilidade do capitalismo submetido a poucas e gigantescas corporações transnacionais – muito grandes para quebrarem a partir da própria lógica do mercado –, amplia-se o papel do Estado em relação à acumulação de capital. A coordenação entre os Estados supranacionais poderá permitir a minimização das crises diante da regulação da competição intercapitalista. Todavia, o estreitamento da
relação cada vez mais orgânica do Estado com o processo de acumulação privada do capital global deve reverter-se no aprofundamento da competição entre os Estados nacionais.

Revolução na base técnico-científica e perspectivas da produção ambientalmente sustentável
O terceiro elemento do novo tripé do possível surgimento do capitalismo reorganizado encontra-se associado à mais rápida aceleração e internalização da revolução técnico-científica no processo de produção e consumo. Pelo conhecimento produzido até o momento acerca da insustentável degradação ambiental gerada pelas atuais práticas de produção e consumo, sabe-se que a saída da crise global não deveria passar pela mera reprodução do passado.

Nesse sentido, o padrão de produção e consumo precisa ser urgentemente reconfigurado. Para isso, não apenas a matriz energética mundial vem sendo alterada, como as alternativas de sustentabilidade ambiental tornam-se cada vez mais viáveis do ponto de vista econômico (lucrativas). Assim, as penalizações governamentais às atividades de produção e consumo degradantes ambientalmente devem crescer e ser politicamente aceitas, permitindo que um conjunto de inovações técnico-científicas possa fazer emergir um novo modelo de produção e consumo menos encadeador da maior mudança climática.

Da mesma forma, o avanço da sociedade pós-industrial, cada vez mais apoiada no avanço do trabalho imaterial, tende a viabilizar uma profunda reorganização dos espaços urbanos, fruto de exigências do exercício do trabalho em locais apropriados (fazenda para a agricultura e pecuária, fábrica e indústria para a manufatura, entre outros). Pelo trabalho imaterial, a atividade laboral pode ser exercida em qualquer local, não mais em espaços previamente determinados e apropriados para isso, bem como em qualquer horário.

Com isso, a reorganização social em comunidades territoriais torna-se possível, o que pode evitar o comprometimento temporal cotidiano com os deslocamentos de casa para o trabalho e vice-versa, entre outras tarefas comuns. Nesses termos, o fundo público precisará ser fortalecido muito mais com base na tributação de atividades de produção e consumo ambientalmente degradantes, assim como nas novas formas de riqueza vinculadas à expropriação do trabalho imaterial.

Somente a maior ampliação do fundo público poderá permitir a postergação do ingresso no mercado de trabalho a partir dos 25 anos, com o estabelecimento de mecanismos que permitam o processo de educação e aprendizagem para a vida toda e, ainda, jornada laboral de até 12 horas por semana. Tudo isso, contudo, pressupõe maioria política necessária para tornar realidade o que hoje se apresenta como mera possibilidade. Do contrário, o excedente de força de trabalho cresce, com atividades cada vez mais precárias e empobrecedoras, em meio à acumulação de nova riqueza global.

II. Recente reposicionamento brasileiro
Pela primeira vez desde a Depressão de 1929, a recuperação econômica mundial vem se realizando sob liderança de países não desenvolvidos. China, Índia e Brasil promovem cerca de dois terços da expansão econômica mundial desde a crise global em 2008, reafi rmando a via já observada desde o início da década de 2000. No caso brasileiro, o Estado apresentou-se como peça fundamental do reposicionamento do país no mundo, seja pela decisiva consolidação do gasto social com nova dinâmica econômica, seja pelo planejamento estratégico de coordenação dos investimentos no país.

Por um lado, a força emergente dos impulsos provenientes da economia social tende a se diferenciar do ciclo de expansão produtivo das décadas de 1930 e 1980, quando permaneceu secundária e subordinada às decisões de gastos privado e público. Até então, a máxima de crescer para depois distribuir predominava, implicando continuadamente no tempo um espaço, em geral estreito, para o avanço da autonomia relativa do gasto social. As bases da economia social atual originam-se da Constituição Federal de 1988, que estabeleceu os grandes complexos do Estado de bem-estar social no Brasil, em especial no âmbito da seguridade social (saúde, previdência e assistência social), favoráveis a um avanço importante do gasto social absoluto e relativo ao PIB.

Nos dias de hoje, o gasto social agregado aproxima-se de 23% do PIB, quase 10 pontos percentuais a mais do verificado em 1985 (13,3%). Ou seja, de cada quatro reais gastos no país, um vincula-se diretamente à economia social. Se for contabilizado também seu efeito multiplicador (elasticidade de 0,8), pode-se estimar que quase a metade de toda a produção de riqueza nacional encontra-se relacionada de modo direto e indireto à dinâmica da economia social.

O impacto econômico do avanço recente do Estado de bem-estar social no Brasil não tem sido ainda muito bem percebido. Tanto assim que continua a reinar a visão liberal-conservadora que considera o gasto social secundário, quase sempre associado ao paternalismo de governantes e, por isso, passível de corte. De maneira geral, registra-se que o rendimento das famílias depende, em média, de quase um quinto das transferências monetárias derivadas das políticas previdenciárias e assistenciais da seguridade social brasileira.

Antes da Constituição Federal de 1988, as famílias não chegavam a deter, em média, 10% de seus rendimentos das transferências monetárias. Os segmentos de menor rendimento foram os mais beneficiados pela constituição do Estado de bem-estar social, uma vez que em 2008 a base da pirâmide social (10% mais pobres) tinha 25% de seu rendimento dependente das transferências monetárias, enquanto em 1978 essa porcentagem era somente de 7%. Uma elevação de 3,6 vezes. No topo da mesma pirâmide social (10% mais ricos), as transferências monetárias respondiam, em 2008, por 18% do rendimento per capita dos domicílios ante 8% em 1978. Ou seja, aumento de 2,2 vezes. Adicionalmente, observa-se que, em 1978, somente 8,3% dos domicílios cujo rendimento per capita situava-se no menor decil da distribuição de renda recebiam transferências monetárias, enquanto no maior decil as transferências monetárias alcançavam 24,4% dos domicílios. Quarenta anos depois, constata-se que 58,3% das famílias na base da pirâmide social recebem transferências monetárias, assim como 40,8% do total dos domicílios mais ricos do país. Houve aumento de 7 vezes para as famílias de baixa renda e de 1,7 vezes para as famílias de maior rendimento.

Em virtude disso, podem-se tirar algumas conclusões a respeito do impacto das transferências previdenciárias e assistenciais sobre a pobreza. Sem as transferências monetárias, o Brasil teria, em 2008, 40,5 milhões de pessoas com rendimento de até 25% do salário mínimo nacional. Com a complementação de renda pelas transferências, o Brasil registra 18,7 milhões de pessoas com até um quarto de salário mínimo mensal. Em resumo, são 21,8 milhões de pessoas que conseguem ultrapassar a linha de pobreza extrema (até 25% do salário mínimo per capita). Em 1978, o efeito da política de transferência monetária impactava somente 4,9 milhões de pessoas.

No caso do efeito das transferências monetárias nas unidades da Federação, identificam-se dois aspectos inovadores que decorrem da emergência da economia social. O primeiro relaciona-se ao maior peso das transferências no rendimento médio das famílias nos estados nordestinos, como Piauí (31,2%), Paraíba (27,5%) e Pernambuco (25,7%), bem acima da média nacional (19,3%). Até aí, nada muito destoante do senso comum, salvo pela constatação de o Rio de Janeiro ser o quarto estado da Federação com maior presença das transferências no rendimento das famílias (25,5%, ante 16,4% em São Paulo). O segundo aspecto decorre da constatação de que as famílias pertencentes aos estados mais ricos da Federação absorvem a maior parte do fundo público comprometido com transferências monetárias. Assim, a região Sudeste consome 50% do total dos recursos anualmente comprometidos com as transferências previdenciárias e assistenciais da seguridade social, dos quais 23,5% vão para São Paulo, 13,7% para o Rio de Janeiro e 10,9% para Minas Gerais. A descoberta dessas novidades no interior da dinâmica econômica brasileira atual impõe a reavaliação da eficácia dos velhos pressupostos da política macroeconomia tradicional. A economia social sustenta, hoje, parcela significativa do comportamento geral da demanda agregada nacional, além de garantir a considerável elevação do padrão de vida dos brasileiros, sobretudo daqueles situados na base da pirâmide social.

Por outro lado, o planejamento agregado dos investimentos foi inicialmente retomado pelo bloco de recursos voltados para a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e, na sequência, para o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Nesse contexto, o país começou a ensaiar os últimos passos da transição da macroeconomia financeira para a da produção. Pelo lado da PDP, o país imprime intensa reestruturação
patrimonial nos setores privados e estatal, com recursos públicos e reposicionamento dos fundos de pensão das empresas estatais. Liderado pelo BNDES, o país forma também grandes empresas transnacionais (construção civil, alimentos, energia, siderurgia, transportes e outras) cujo objetivo é reinserir-se no espaço restrito da ultramonopolização da competição capitalista mundial, guiada por não mais do que quinhentas empresas transnacionais. Dessas, somente três possuem faturamento anual equivalente ao PIB brasileiro, atualmente o oitavo do mundo.

O estágio atual da reestruturação capitalista faz com que grandes empresas sejam maiores que Estados nacionais, e não sejam mais os países que detenham empresas, mas justamente o inverso. O Brasil, nesse caso, segue tardiamente a trajetória asiática de constituição de grandes empresas globais, após duas tentativas frustradas (na constituição de um grande holding do setor público durante o Plano Cruzado, em 1986, e na privatização dos anos 1990, que transferiu patrimônio público equivalente a 15% do PIB para o setor privado, sobretudo estrangeiro).

Nos últimos três anos, quase um terço do total dos recursos disponibilizados pelo BNDES foram canalizados para somente dez grandes grupos econômicos privados em processo de concentração e fusão. Se se considerar as empresas estatais, chega-se ao resultado de quase dois terços do total dos recursos (286 bilhões de reais) desembolsados pelo banco público para apenas doze grandes empresas nacionais privadas e estatais. Com isso, a coordenação dos investimentos estimulada pelo aparelho de Estado visa reduzir – quase duas décadas depois da equivocada privatização selvagem imposta pelas políticas neoliberais – a dependência e a subordinação do capitalismo brasileiro, cada vez mais associado à lógica do século XIX (produtor e exportador de produtos primários). Com o deslocamento do centro dinâmico mundial dos Estados Unidos para a Ásia, em especial para a China, o Brasil, assim como toda a América Latina e África, passaram a assumir o papel de principal ofertante de commodities, o que leva passivamente à reprimarização de sua pauta de exportação. A PDP, nesse sentido, projeta o salvamento de alguns setores dessa triste trajetória de subordinação imposta pela trágica condução neoliberal do passado.

Na perspectiva do PAC, percebe-se o planejamento estratégico de concentrar recursos públicos na reconstituição da infraestrutura econômica e social, abandonada pelo neoliberalismo e depauperada por mais de duas décadas de desinvestimentos. Nos setores de energia (elétrica, fóssil, eólica), de saneamento e habitação popular e ainda de ferrovias, aeroportos, portos, estradas, tecnologias e outras, a roda da economia começou a se movimentar, com importantes impactos regionais e locais derivados da volta dos grandes projetos nacionais de reforço à integração nacional. Dos mais de 1 trilhão de reais de investimentos previstos pelos PACs 1 e 2, quase quatro quintos deles encontram-se direcionados à energia e à infraestrutura urbana. Somente na programação de desembolsos para saneamento e habitação popular, destaca-se que 75% dos recursos são provenientes da Caixa Econômica Federal e visam reduzir o enorme défi cit de moradia que atinge a base da pirâmide social, urbanizando parte das favelas situadas nos grandes centros metropolitanos do país.

Ao mesmo tempo, o conjunto de investimentos conduzidos pelo PAC tende a alterar a dinâmica regional. Com isso, parte do enorme vazio produtivo e ocupacional em grandes áreas do país passa a contar com investimentos que fortalecem a estruturas das atividades econômicas, o que contribui para reduzir o grau de concentração da renda nas regiões centro-sul.

III. Considerações finais acerca da refundação do Estado
Após 25 anos de consolidação do regime democrático, o Brasil parece constituir esforços importantes rumo ao projeto nacional de desenvolvimento. Ademais do obstáculo de consagrar uma nova maioria política que ouse mais na direção da transformação da crise mundial atual como oportunidade de maior reposicionamento do país no mundo, cabe ainda a árdua tarefa da refundação do Estado sob novas bases. Três podem ser seus eixos estruturantes.

O primeiro consiste numa reorganização administrativa e institucional que viabilize a reprogramação de todas as políticas públicas a partir da matricialidade e da integração setorial de suas especialidades. Enquanto o Estado funciona na forma de caixinhas setoriais (educação, saúde, trabalho e outros) e regionais, os problemas atuais tornam-se cada vez mais complexos e totalizantes, não podendo ser superados pela lógica de organização pública em partes que não se comunicam, quando concorrentes entre si. A fonte disso encontra-se centrada na recuperação do sistema de planejamento democrático e transparente de médio e longo prazos.

O segundo eixo concentra-se na necessária ampliação das políticas distributivas para as redistributivas. Ou seja, a transição da melhor repartição social do orçamento governamental para a expansão da progressividade do fundo público, com a redução da carga tributária sobre a renda do trabalho e a ampliação de impostos, taxas e contribuições sobre a renda do capital (lucro, juros, aluguel e renda de terras). Arrecadando mais e melhor, o Estado passa a alterar a desigualdade medieval que se mantém no Brasil.

O terceiro eixo refere-se à reinvenção do mercado, tendo em vista o poder dos grandes grupos econômicos sobre o Estado. Ademais das exigências de transparência e crescente participação social, o Estado precisa reconstituir-se fundamentalmente para o verdadeiro mar que organiza os micro e pequenos negócios no país, com políticas de organização e valorização do setor por meio da criação de bancos públicos de financiamento de produção e comercialização, fundos de produção e difusão tecnológica e assistência técnica (uma “embrapa” urbana) e de compras públicas. Algo nesse sentido ocorre de modo contido pela força do Sebrae, por crédito consignado e de bancos públicos e pelas novas leis (Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e Micro Empreendedor Individual), mas há ainda muito o que fazer, e o cume seria a criação de um ministério específico para isso.

Esses são alguns dos passos que o Brasil precisa percorrer. A refundação do Estado é urgente e inadiável. A oportunidade trazida pela crise mundial é real, mas depende da capacidade interna de organizar uma nova maioria política, capaz de pôr em marcha o projeto nacional do desenvolvimento, sonhado por muitos e que agora ameaça se tornar realidade. O tempo, que é senhor de si, indicará proximamente quando o Brasil deixou de ser o país do futuro.

(*) Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Intensifica-se o debate no Partido dos Trabalhadores


O debate interno no PT, sobre as eleições de 2012, intensifica-se. As tendências internas começam a definir suas estratégias para o pleito. As correnets políticas que defendem a CANDIDATURA PRÓPRIA  - DS, MPT, AE, PT AMPLO, ED - estão organizando ações e atividades para consolidarem esta posição.
Para tanto,  lançaram um adesivo( reproduzido abaixo) onde reafirmam o COMPROMISSO COM PORTO ALEGRE e a disposição de votar 13.






Investir em obras é dizer não à crise internacional, diz Dilma

extraído da páginda do Correio do Povo, em 16/09/11

Presidente visitou as obras do estádio Mineirão em Belo Horizonte

Dilma visitou obras em Minas Gerais ao lado de Pelé<br /><b>Crédito: </b> Roberto Stuckert Filho / PR / CP
Dilma visitou obras em Minas Gerais ao lado de Pelé
Crédito: Roberto Stuckert Filho / PR / CP
 

A 100 dias da Copa do Mundo de 2014 a presidente Dilma Rousseff inspecionou nesta sexta, em Belo Horizonte, as obras do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, que irá sediar um dos jogos do Mundial. Ela também visitou obras para melhorar os meios de transporte e o trânsito na cidade.

Dilma destacou que as obras de infraestrutura para a Copa estimulam o país a manter o ritmo de crescimento. “Continuar investindo de forma pesada em obras de infraestrutura é parte da nossa estratégia para garantir que o Brasil mantenha o desenvolvimento em ritmo adequado, de dizer não à crise internacional”, disse no discurso.

Durante a cerimônia, a presidente anunciou o repasse de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Mobilidade Grandes Cidades em Belo Horizonte no valor de R$ 3,16 bilhões, sendo R$ 1,14 bilhão de contrapartida estadual e municipal. Os investimentos serão usados na implantação e revitalização de linhas do metrô de Belo Horizonte, na implantação de terminais metropolitanos em sete municípios da região, e na complementação do Complexo da Lagoinha.

Ao lado de Pelé, embaixador honorário da Copa, que também participou da visita a Belo Horizonte, Dilma lembrou que os dois são mineiros e que comemora os mil dias para Mundial com um especialista em mil, já que Pelé fez 1.280 gols ao longo de sua carreira.

Os operários que trabalham nas obras do Mineirão fazem uma paralisação, mas o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, disse durante o discurso que as obras do estádio, bem como as demais para a Copa, estão “rigorosamente no prazo”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ipea: cerca de 26 milhões de brasileiros saíram da pobreza entre 2004 e 2009

Da Redação do Blog Sul 21, em 15/09/11.

A desigualdade de distribuição de renda no Brasil diminuiu 5,6% e a renda média real subiu 28% entre 2004 e 2009. No período, cerca de 26 milhões deixaram a pobreza. Os dados constam do comunicado Mudanças Recentes na Pobreza Brasileira, divulgado nesta quinta-feira (15) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Segundo o documento, o percentual de pessoas com renda mensal igual ou maior do que um salário mínimo per capita – consideradas não pobres – subiu de 29% para 42%. Isso significa que o número de pessoas dessa faixa aumentou de 51,3 milhões para 77,9 milhões no período. Na época do levantamento dos dados, o salário mínimo estava em R$ 465.
Já a camada considerada pobre, classificação que se refere a famílias com renda per capita, à época, entre R$ 67 e R$ 134, diminuiu de 28 milhões para 18 milhões de pessoas ao longo do período. Os extremamente pobres, com renda per capita inferior a R$ 67, caíram de 15 milhões para 9 milhões.
“O crescimento da renda e a diminuição das desigualdades foram bastante significativos”, avalia o pesquisador da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea Rafael Guerreiro Osório. “O grande estrato que cresce na população é o de não pobres. É uma diferença de 26 milhões de pessoas”, completou.
Uma das conclusões destacadas pelo pesquisador é que, apesar de bastante abrangente, o Programa Bolsa Família não garante a ascensão social de seus beneficiados. “Embora seja uma cobertura muito abrangente para as famílias extremamente pobres ou pobres, os valores transferidos pelo programa são muito baixos. Com isso, nenhuma família sai desses estratos por causa dessas transferências. Para que isso aconteça, é fundamental que elas tenham uma outra fonte de renda, ainda que de algum trabalho precário”, destacou Osório.
Ele acrescentou que um estudo do Ipea mostra que, dobrando o orçamento do Bolsa Família destinado às pessoas já atendidas, “seria possível levar a pobreza extrema do país para níveis bem baixos”, podendo inclusive chegar à meta de erradicar a miséria no Brasil. “Em valores, isso corresponde a aumentar de R$ 12 bilhões para R$ 26 bilhões o orçamento destinado ao programa.”
“Cada vez menos a pobreza é determinada pela baixa remuneração ao trabalho, e cada vez mais é determinada pela desconexão do trabalho”, acrescentou o pesquisador. Segundo ele, 29% das famílias extremamente pobres não têm nenhuma conexão com o mercado de trabalho.
Entre os pobres, esse percentual é 10%, o mesmo índice identificado na população considerada vulnerável. Na camada de não pobres, o índice cai para 6%. “A explicação para o fato de haver um índice de 6% para famílias não pobres sem conexão com o mercado de trabalho é a Previdência Social”, justificou Osório, ao citar benefícios como a aposentadoria.

Com informações da Agência Brasil

Damião e Lambreta

Uma análise sobre a pesquisa e o cenário eleitoral em Porto Alegre 2012

 
postado no blog Contraversando
 
por André Rosa
 
 
 
Pesquisas eleitorais sempre mostram o comportamento do eleitor num determinado momento. Por isso, sempre devem ser relativizadas, ser um dos elementos de qualquer análise e não a análise propriamente dita. Ainda mais quando ela é feita a mais de um ano antes da eleição. Geralmente, neste cenário, devido a distância de tempo dela com relação ao processo eleitoral, ela é absolutamente inconclusiva. Tese que se comprova ao analisarmos qualquer um dos últimos cenários eleitorais no RS e no Brasil. Nos últimos pleitos, pesquisas realizadas a um ano antes da eleição indicaram o favoritismo de um candidato ou candidata que acabou não se confirmando logo adiante. Há inclusive casos de candidatos ou candidatas aparecerem nestas pesquisas com patamares abaixo de 5% das intenções de voto que acabaram por vencer pleitos eleitorais.

No entanto, arrisco tecer alguns comentários, ainda que preliminares acerca do resultado da pesquisa divulgada no último domingo (11/09) sobre as eleições de Porto Alegre:

1 - Não é possível afirmar que a candidatura melhor colocada na pesquisa é favorita para vencer o pleito. A diferença apontada com relação ao segundo colocado oscila entre 2 e 6 pontos percentuais, quando a margem de erro é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos.

2 - O segundo colocado é justamente o atual prefeito, o qual, segundo a pesquisa, teria 69% de aprovação dos entrevistados. O mesmo também lidera a intenção de voto espontânea e sua rejeição está abaixo da candidatura melhor colocada.

3 - Os dois primeiros colocados na maioria dos cenários já anunciaram suas candidaturas há tempos, o que, evidentemente, faz com que sejam melhor visualizados pelos entrevistados.

4 - Mesmo não tendo candidatura definida e um processo de debates em curso que considera inclusive a possibilidade de compor aliança com um dos primeiros colocados, o PT aparece muito bem no cenário eleitoral. A ministra Maria do Rosário, que deve continuar no comando da Secretaria de Direitos Humanos do governo Dilma, aparece com 15% das intenções de voto. O ex-prefeito e deputado estadual Raul Pont aparece com 10% e o vereador Adeli Sell com 1%. Na espontânea, nomes do PT somados aparecem com 7%.

5 - Com relação ao PMDB, que também não definiu suas estratégia eleitoral para 2012, o cenário é diferente. Caso tenha candidatura, os nomes colocados não ultrapassam 1% das intenções de voto.

6 - As candidaturas de DEM e PSDB tendem a ser coadjuvantes no processo eleitoral.

7 - 56% dos entrevistados sequer indicaram um candidato ou candidata de sua preferência. Mesmo podendo apontar até nomes alheios ao processo eleitoral.

Diante do cenário colocado, tendo como um dos seus objetos de análise a recente pesquisa, é possível afirmar que é fundamental para o PT apresentar candidatura à Prefeitura de Porto Alegre em 2012. Aparentemente, além da sua militância, parcela significativa da população espera isso do partido. Caso opte por não ter candidatura própria em 2012, o PT correrá o risco de ver diminuir sua bancada no legislativo municipal e de seus espaços nos movimentos sociais e populares. Por consequência acabará por abrir mão de ser protagonista na discussão sobre qual Porto Alegre teremos no futuro, debate que vai muito além do processo eleitoral que se realizará no próximo ano.
 
postado por André Rosa

terça-feira, 13 de setembro de 2011

“Conversa com a Presidenta”

"Agora não são os pobres que vão atrás do Estado, é o Estado que vai aonde os pobres estão"

por Secom, no Blog Em Questão do Dia.

Achei louvável a iniciativa de lançar o Brasil sem Miséria, mas não entendi como se dará a Busca Ativa. A senhora pode explicar? - Luíza Valente Schwartskopf, 29 anos, estudante de Ciências Sociais em Araras (SP)
Presidenta – Luíza, há uma frase que resume bem a ideia da Busca Ativa: "Agora não são os pobres que vão atrás do Estado, é o Estado que vai aonde os pobres estão". Ainda há um grande número de pessoas e famílias no Brasil que deveriam ser atendidas, mas que ainda não têm acesso às políticas públicas. São as que estão em situação muito precária ou que moram em regiões isoladas e não têm conhecimento de todos os seus direitos. A Busca Ativa significa que a União, em parceria com estados e municípios, está assumindo a responsabilidade de buscar estas pessoas. Nos municípios, as secretarias de Assistência Social, gestoras do Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), são responsáveis por coordenar e articular essa busca. Para apoiar, o Ministério do Desenvolvimento Social colocará à disposição dos municípios mapas de pobreza detalhados, feitos com base nos dados do Censo de 2010. Os agentes das prefeituras poderão visualizar as áreas de maior concentração de famílias com renda mensal de no máximo R$ 70,00 por pessoa e identificar a população a ser atendida. Conforme o perfil destas famílias, podemos incluí-las no Bolsa Família, no Benefício de Prestação Continuada ou, ainda, garantir o acesso a benefícios da Previdência Social. Além de assegurar renda, vamos identificar quais as carências destas famílias, para dar também acesso a assistência social, educação, saúde, energia elétrica, água e esgoto, além de oferecer oportunidades de qualificação profissional e de trabalho.
Podemos acreditar que a BR-381 será duplicada no seu governo? - Pedro Macedo de Aguiar, 69 anos, engenheiro em Governador Valadares (MG)
Presidenta – Estamos trabalhando para iniciar as obras em 2012 e concluir em 2015. A BR-381 estava incluída no processo de concessão de rodovias federais, mas nós reavaliamos e entendemos que o mais indicado será realizar a duplicação como obra pública. Por isto, incluímos a duplicação da rodovia, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, no PAC. Esta é uma obra extensa, Pedro, cujas intervenções foram divididas em 8 lotes, nos quais haverá ações de duplicação e adequação da capacidade em 303 km. Há também outros 2 lotes, que somam 38,6 km, relativos à construção de uma variante em Santa Bárbara. A numeração tem início em Governador Valadares (lote 1) e término em Belo Horizonte (lote 8). Os projetos que embasarão as obras na rodovia estão em andamento e espera-se que os projetos executivos sejam concluídos entre outubro (lotes 7 e 8) e fevereiro de 2012. O Ministério dos Transportes está trabalhando para que os dois trechos da saída de Belo Horizonte, que são os mais críticos, entrem em licitação até o final do ano. Todos os lotes estarão em obras até meados de 2012.
Como a questão da febre aftosa é tratada pelo governo federal? Já tivemos inúmeros casos de produtores que perderam todo o seu rebanho. - Erno Walter Schmidt, 55 anos, agricultor em Navegantes (SC)
Presidenta – Nossa situação em relação ao assunto é confortável, Erno, mas não podemos afrouxar o controle, pois trata-se de uma doença altamente contagiosa e que causa severas perdas econômicas. O governo federal dispõe do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa, que visa à implantação progressiva de zonas livres de febre aftosa, com e sem vacinação, reconhecidas internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde Animal. A implantação dessas zonas livres começou em 1998, no seu estado, Santa Catarina, e no Rio Grande do Sul. Hoje, temos o território de Santa Catarina com status de livre de febre aftosa sem vacinação e todo o território de 15 estados e parte de outros 2 estados livres da doença com vacinação. As zonas livres representam 60% do território nacional e concentram 90% do rebanho bovino e de búfalos e 94% do rebanho suídeo (porcos e javalis). O governo federal tem priorizado as regiões Norte e Nordeste para ampliar a zona livre de febre aftosa com vacinação. Estamos também fortalecendo os mecanismos de prevenção da doença, de forma a permitir o avanço da zona livre de febre aftosa sem vacinação. E temos apoiado outros países da América do Sul em seus programas de erradicação da doença, para reduzir as ameaças de recontaminação de nossas zonas livres através das fronteiras.
A coluna semanal “Conversa com a Presidenta” é o espaço onde a presidenta Dilma Rousseff responde perguntas enviadas por leitores de todo o País

Dilma é Dilma, Lula é Lula


Por Maria Inês Nassif *


O talento de Luiz Inácio Lula da Silva para lidar com as multidões; sua expertise em diálogo, adquirida nas mesas de negociação com os patrões como sindicalista; a ascendência sobre o PT, por ter sido, desde a criação do partido, a ligação entre os quadros de esquerda e as massas; e até um tendência ao pragmatismo acabaram concentrando todos os elementos de governabilidade em suas mãos, nos seus dois mandatos (2002-2010).
O carisma e o talento político, e algumas apostas bem sucedidas – que permitiram a inclusão de grandes contingentes pobres à sociedade de consumo – se sobrepuseram a condições extremamente desfavoráveis do seu mandato. Lula lidava com uma elite política rachada ao meio: na base de apoio, tinha que lidar com a política de clientela de partidos tradicionais, à direita ou ao centro; na oposição, com um udenismo que tinha grande potencial de instabilização do regime. Sem fazer o governo dos sonhos da esquerda de seu partido ou dos movimentos sociais, a guinada à direita do PSDB e o “lulismo” das bases acabaram limitando a ação dos grupos mais radicais. Seu vínculo com a CUT também neutralizou o movimento sindical.
Todo o temor dos setores de centro-esquerda nas eleições do ano passado residia no fato de a candidata ungida por Lula, Dilma Rousseff, não ter as mesmas qualidades. A presidenta eleita não tem vínculos históricos com o PT ou com os movimentos sociais, não tem prática de negociação – nem no movimento sindical, nem com os partidos políticos – e não é uma líder popular. Os primeiros nove meses de governo, todavia, mostram que, em alguns casos, ela transformou suas desvantagens em vantagens. Depois de oito anos de governo de um líder político como Lula, era obrigatória a reautonomização dos partidos e dos movimentos sociais.
A crise política e a radicalização à direita do PSDB e do PFL juntaram esses atores em torno de Lula. O governo Dilma acena para uma certa organização da vida institucional, pelo menos no que se refere às forças que deram apoio orgânico à sua candidatura. A disputa política tende a ser menor no cenário institucional e se desloca para a sociedade. Governo vira governo, partido vira partido, movimento sindical vira movimento sindical e movimentos sociais viram movimentos sociais.
O Congresso do PT, realizado no início de junho, é um exemplo. O partido saiu da toca e construiu sua própria agenda política, com itens que o governo não necessariamente assumirá, como a regulamentação da mídia. A reforma política, se comove governo e partido, está nas mãos do partido: a opinião pública precisa estar convencida disso e a luta se dá no Legislativo, entre os partidos políticos. A CUT reassumiu a bandeira da redução da jornada de trabalho sem o correspodente corte em salários. O MST aproveitou uma evidente preferência do governo por medidas destinadas ao incentivo da produção na propriedade familiar, tem sido ouvido nas suas reivindicações por crédito e tecnologia para assentados e deve colocar a reforma agrária no campo de luta social (até hoje não foi feita nenhuma desapropriação para fins de reforma agrária no governo Dilma).
Sem grandes vínculos com o partido e com os movimentos sociais historicamente ligados a Lula, Dilma tem gasto mais tempo com eles do que seu antecessor. O ex-presidente entendia esses setores como uma extensão de seu mandato. E tinha o “lulismo” como amortecedor de demandas mais radicais. Desde o episódio dos “aloprados” — em 2006, a Polícia Federal deu flagrante em petistas que tentavam comprar um dossiê contra o candidato ao governo pelo PSD, José Serra – , Lula botou a direção do PT na geladeira. O deputado Ricardo Berzoini, então presidente do partido, amargou o desgaste do episódio junto ao governo até o fim de seu mandato na presidência do PT. Quando José Eduardo Dutra, quadro da confiança de Lula, assumiu a presidência petista, a campanha eleitoral já estava em andamento. O PT se concentrou nas eleições; Lula, no governo e nas eleições.
Com uma composição muito elástica da base parlamentar, Lula evitou conversar diretamente com os movimentos sociais. O que garantiu um certo controle sobre os movimentos mais radicais foi a radicalização à direita da oposição. Não havia interesse desses setores me enfraquecer o governo, depois de terem sofrido um período negro de criminalização nos governos tucanos. A CUT também perdeu o poder de ação, embora os trabalhadores do setor público tenham mantido alguma militância.
Dilma devolveu poder à direção do PT, ao abrir um contato direto com o atual presidente da agremiação, Rui Falcão. Abriu sua agenda para políticos. E, além de ter conversado pessoalmente com líderes de movimentos sociais, manteve o canal aberto com esses setores via Gilberto Carvalho, nomeado secretário-geral, que tem um diálogo inquestionável com eles.
O racha do DEM, o PSD, também foi um grande presente para a presidenta. Com uma base parlamentar muito grande, os pequenos partidos de direita tendem a ser neutralizados com os novos integrantes da base. O governo também pode se dar ao luxo de abrir mão de parte dos votos do PMDB para aprovar matérias de seu interesse. Tanto é assim que a presidenta tem feito as mudanças no Ministério a cada escândalo, devolvendo aos partidos da base o ônus pelo desgaste dos malfeitos dos titulares das pastas por eles indicados.
É certo que muita água vai correr debaixo da ponte até terminar o primeiro mandato de Dilma – e mais água ainda se ela conseguir a reeleição. Mas o fato é que os primeiros meses de seu governo mostram que Dilma é Dilma e Lula é Lula. Cada um lida com as dificuldades de governo com as qualidades que possui.
* Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.