domingo, 13 de novembro de 2011

Economia e Área Social no PSDB

por Marcos Coimbra*, extráido do Blog do Noblat

Quem prestou atenção na programação do último encontro nacional tucano, realizado no Rio de Janeiro no início da semana, deve ter reparado em uma coisa: a desproporção no “peso” de suas duas mesas.
O evento foi promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, o órgão de estudos e pesquisas do PSDB, e seu título era “A Nova Agenda – Desafios e Oportunidades para o Brasil”. Segundo os realizadores, o objetivo era responder a uma “indagação profunda”: “Para onde vai o Brasil? Que Estado pretendemos, que futuro vislumbramos?”.
Estava organizado em duas mesas, uma sobre economia, outra sobre a “área social”. Na primeira, não se estabeleciam divisões temáticas ou setoriais. Ninguém estava escalado para falar sobre questões monetárias, fiscais, de política industrial, comércio exterior ou qualquer assunto específico. Os convidados podiam, aparentemente, falar sobre o que quisessem.
Na segunda, ao contrário, as regras eram rígidas. Havia um especialista para cada assunto: educação, saúde, segurança pública e previdência social. Sob a presidência de um economista, os membros da mesa deviam se ater ao que conheciam, sem se meter na seara do outro.
A visão de que a economia forma um todo – compreensível, apenas, se for considerada na sua inteireza-, e a “área social” é uma justaposição de partes estanques - construída por somatório -, é, em si, algo que revela uma maneira questionável de conceber o Estado e suas responsabilidades. Mas não é o aspecto que mais chama atenção.
Mais interessante é o perfil e a composição das duas mesas. Olhando-as, podemos entender melhor o que é hoje o PSDB e quais seus dilemas para ser (voltar a ser) uma alternativa capaz de levar a maioria do país a votar em seu candidato a Presidente da República.
No fundo, era isso que os tucanos queriam discutir, e não debater os temas propostos. Pelo clima na platéia, pela presença de suas principais lideranças (até o ex-governador José Serra resolveu aparecer, inesperadamente), foi mais uma pajelança política que um evento técnico.
A mesa sobre economia era recheada de notáveis. Só ex-presidentes do Banco Central, havia três, um dos quais também ex-presidente do BNDES. Dois exibiam no currículo a paternidade do Plano Real, como seus “formuladores”ou “implementadores”.
Todos são ou foram figuras de destaque no setor financeiro, donos de corretoras ou banqueiros. Em resumo, personagens com trânsito livre na elite econômica e relevante experiência no setor público.
Sem menosprezar qualquer um dos integrantes da mesa “social” (pois todos são figuras respeitáveis no meio acadêmico), seu perfil era outro: pesquisadores universitários, cientistas sociais, com trajetória menos destacada em cargos de governo. Um havia ocupado a presidência do IBGE - normalmente reservada a pessoas vindas de carreiras parecidas.
Para deixar ainda mais clara a diferença, quem coordenava essa mesa também era da “turma do real”.
Na hora de exibir seus economistas ilustres, o PSDB não parece ter problemas. Os há de sobra, entre ministros, assessores e amigos de FHC. O difícil é escolher.
Mas, e se tiverem que convidar participantes para uma “mesa social”? Quem são os tucanos famosos? Quais figuras do primeiro escalão dos governos do PSDB poderiam ser chamados? Quem é a intelligentsia tucana na área social? É tão limitada a escolha que, com a ausência de Paulo Renato, não resta (quase) ninguém (lembrando que Serra não aceitaria nem passar perto de uma mesa desse tipo, para não se sentir “diminuído”).
O desequilíbrio entre as mesas no evento tucano talvez seja circunstancial, mas pode ser a manifestação de uma característica “mais profunda” do PSDB (ainda que não de todo ele): considerar que a economia (vista como a veem seus integrantes) é o centro da ação de governo, o núcleo verdadeiramente importante do que deve ser feito.
A “área social” é matéria de segunda classe, mesmo se valorizada no plano retórico.
É isso que pensa do PSDB a maioria da opinião pública e ele apenas reforça o estereótipo, comportando-se como nessa oportunidade. Enquanto permanecer com a imagem de partido obcecado com a economia e um discurso meramente residual para a área social, não irá longe.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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