terça-feira, 29 de maio de 2012

A FORÇA DA IMAGEM DO PT, por Marcos Coimbra*


* diretor do Vox Populi


Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário brasileiro tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas instituições políticas, pode-se até dizer que ele é muito significativo.

Em um país com democracia intermitente, baixo acesso à educação e onde a participação eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que se identificam com algum partido chega a ser surpreendente.

Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é a ausência, mas a presença de vínculos partidários no eleitorado.
Conforme mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo.
Seria possível imaginar que essa taxa é consequência de termos um amplo e variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um cardápio tão vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um partido com o qual concordar. Mas não é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as identificações são concentradas. Na verdade, fortemente concentradas.

O Vox Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o tema. Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido. Mas 80% desses se restringiram a apenas três: PT (com 28% das respostas), PMDB (com 6%) e PSDB (com 5%). Olhado desse modo, o sistema é, portanto, bem menos heterogêneo, pois os restantes 26 partidos dividem os 20% que sobram. Temos a rigor apenas três partidos de expressão. Entre os três, um padrão semelhante. Sozinho, o PT representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz com que todos os demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele.
Em resumo, 50% dos eleitores brasileiros não têm partido, 30% são petistas e 20% simpatizam com algum outro – e a metade desses é peemedebista ou tucana. Do primeiro para o segundo, a relação é de quase cinco vezes.

A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao entrevistado que diga se “simpatiza”, “antipatiza”ou se não tem um ou outro sentimento em relação ao partido. Entre “muita” e “alguma simpatia”, temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam 11%, que antipatizam “alguma” coisa ou “muito” com ele.
Essa simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os demais partidos. É simpática ao PT a metade dos que se sentem próximos ao PMDB, um terço dos que gostam do PSDB e metade dos que simpatizam com os outros.
Se o partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não espanta que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram um partido “moderno” (ante 14% que o acham “ultrapassado”); 70% entendem que “tem compromisso com os pobres”(ante 14% que dizem que não); 66% afirmam que “busca atender ao interesse da maioria da população” (ante 15% que não acreditam nisso). Até em uma dimensão particularmente complicada seu desempenho é positivo: 56% dos entrevistados acham que “cumpre o que promete” (enquanto 23% dizem que não). Níveis de confiança como esses não são comuns em nosso sistema político.
Ao comparar os resultados dessa pesquisa com outras, percebe-se que a imagem do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos últimos anos. No mínimo, de estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a proporção dos que dizem que o partido tem atuação “positiva na política brasileira”foi de 57% a 66%.
A avaliação de sua contribuição para o crescimento do País também se mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo com a frase “O PT ajuda o Brasil a crescer”, proporção que foi a 72% neste ano.
O sucesso de Lula e o bom começo de Dilma Rousseff são uma parte importante da explicação para esses números. Mas não seria correto interpretá-los como fruto exclusivo da atuação de ambos.
Nas suas três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da atualidade: formou laços sólidos com uma ampla parcela do eleitorado. O petismo tornou-se um fenômeno de massa.
Há, é certo, quem não goste dele – os 11% que antipatizam, entre os quais os 5% que desgostam muito. Mas não mudam o quadro.
Ao se considerar tudo que aconteceu ao partido e ao se levar em conta o tratamento sistematicamente negativo que recebe da chamada “grande imprensa”- demonstrado em pesquisas acadêmicas realizadas por instituições respeitadas – é um saldo muito bom.
É com essa imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que o PT se prepara para enfrentar os difíceis dias em que o coro da indústria de comunicação usará o julgamento do mensalão para desgastá-lo.
Conseguirá?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Direitos humanos: à memória e à verdade, por Adão Villaverde*

publicado no Blog Sul21, de 14/05/12.

Participar do recente “Seminário Internacional Ditaduras do Cone Sul, Repressão e Resistência”, que meritoriamente levou o nome do saudoso amigo Minhoca De Ré,  e assistir a entrevista no Frente a Frente da TVE, do advogado trabalhista, militante de esquerda, ex-deputado e amigo Carlos Araújo, me instaram a fazer algumas reflexões no âmbito dos direitos humanos.
Embora os avanços registrados por iniciativa da presidenta Dilma Rousseff e da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, como a criação da Comissão da Verdade, ainda temos grande dificuldades de superar um passado que parece ser um tempo que não passou.
Ainda não há, no Brasil, uma cultura inteiramente consolidada, permitindo que seja concedido um tratamento de Estado com amplo apoio da sociedade, em relação ao que significou o período de exceção e arbítrio vivido pelo nosso país de 1964 a 1985, sobretudo se contrastado, por exemplo, com o Uruguai e a Argentina, onde seus cidadãos cobram e exigem de seus governos os reparos necessários.
Desde sua publicação pelo governo federal, em agosto de 2007, o livro “Direito à memória e à verdade”, versando sobre a história das vítimas dos organismos de repressão da ditadura, teve grande relevância e significado para nossa democracia.
Ainda que alguns, equivocadamente, pudessem atribuir à obra uma lógica revanchista, o que ela pretende mesmo é o que nomeia o seu título, sem deixar de subliminarmente recuperar aquilo que a grande pensadora alemã de origem judaica Hannah Arendt dizia sobre o “terrorismo de Estado”. Ou seja: “… como os povos podem aderir à idéia do genocídio? Como o pacto social pode ser definitivamente quebrado? Como a hipótese de uma sociedade das nações cai em ruína e como aceitar o inaceitável: a inutilidade da existência, a sensação de estar sobrando e à recusa ao outro?”.
Este documento se revestiu, portanto, de uma contribuição   importantíssima para que o atual governo nacional pudesse avançar, junto com a sociedade brasileira, não só no reconhecimento mas, no mínimo, na responsabilização em relação às mortes, torturas e repressões de uma época de triste memória para todos nós.
É fundamental reconhecer que a ditadura de duas longas e cruéis décadas de escuridão foi um monstruoso passo atrás na história brasileira. E que o ressarcimento aos familiares das vítimas das atrocidades e o reconhecimento dos crimes são medidas urgentes e necessárias e, sobretudo, imperiosas.
Assim como vivemos num país no qual elegemos diretamente nossos representantes e expomos livremente nossas opiniões e posições, não distorcer fatos e recuperar a memória e a verdade é um grande significado para avançar nossa incipiente democracia e fortalecer o Estado de Direito.

Adão Villaverde é engenheiro, professor e deputado estadual, ex-presidente da AL RS

13 de Maio: abolição da escravatura sem o resgate da dívida social com os negros

Editorial do blog Sul21, publicado em 14/05/12.

Após 124 anos da abolição da escravatura no Brasil o martírio dos negros ainda não teve fim. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão negra e, mesmo assim, o fez de forma incompleta. Visando não criar impactos profundos na produção agrícola e não diminuir os lucros dos proprietários, a abolição se fez por etapas. Sem se preocupar em criar condições de sobrevivência para os recém-libertos, a abolição não foi acompanhada da geração de opções de trabalho e renda.
Por pressão da Inglaterra, que dominava os mares e o comércio internacional e necessitava do assalariamento dos trabalhadores para a expansão do seu mercado de consumo, foi proibido o tráfico negreiro. Depois, foram libertos os recém-nascidos, que eram numerosos e precisavam ser mantidos até por volta dos sete anos de vida, quando começavam a trabalhar. Em seguida, foi abolida a escravidão dos sexagenários, que eram pouquíssimos, pois a imensa maioria morria cedo consumida pelo trabalho degradante e as péssimas condições de vida a que eram submetidos, mas constituíam peso morto e geravam despesas para os “senhores”.
Sem instrução, sem treinamento para as novas formas de trabalho e, sobretudo, sem receber terras onde pudessem exercer a principal atividade produtiva a que se dedicavam, os negros libertos foram entregues à própria sorte. Ficaram, na imensa maioria das vezes, trabalhando sem remuneração para os mesmos antigos senhores ou foram expulsos das propriedades onde serviam.  Muitos passaram a perambular pelas estradas e ruas, sendo acusados de serem “indolentes”, “avessos ao trabalho”, “capoeiristas”, “lundusistas”, “sambistas” e “malandros”.
Não se fez o que os autênticos abolicionistas reivindicavam, ou seja, uma reforma agrária que garantisse terras aos negros libertos e a possibilidade de seu cultivo para que gerassem renda e desenvolvimento. O resultado foi a transformação da quase totalidade dos antigos escravos em novos miseráveis. Tornaram-se cidadãos de segunda ou de terceira classe. Para se ter uma ideia do abismo social-racial existente no Brasil, basta que se constate que o nível de escolaridade dos negros brasileiros era inferior, no início do século XXI, ao nível dos negros sul-africanos no final do apartheid.
A dívida social com os negros brasileiros perdura ainda hoje. O Censo Demográfico de 2010 apurou que dos 16 milhões de brasileiros que vivem em situação de extrema pobreza (com renda mensal de até R$ 70,00) 11,5 milhões, ou seja, 72% do total são pardos e negros. Os dados estatísticos não deixam dúvida sobre a dívida social com os negros no Brasil: se verificam entre eles os mais altos índices de analfabetismo, desemprego, mortalidade infantil e entre jovens, violência, entre outros.
O Brasil tem avançado no resgate desta dívida social, por exemplo, com a adoção de cotas raciais nas universidades públicas, com a definição da discriminação racial como crime inafiançável e com a criação de programas de distribuição de renda e de apoio às famílias em situação de vulnerabilidade social. Há muito, no entanto, a ser feito e seria bom que todos nós, independente de nossas etnias, nos uníssemos para quitar, no menor tempo possível, o débito que ainda perdura.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Um prefeito na contramão, por Zé Reis*

 Cristine Rochol/PMPA
 Foto: Cristine Rochol/PMPA




Estamos em período pré-eleitoral e as alianças, composições e acordos políticos estão em andamento e ocupam boa parte da mídia.  Mas, não são só conversas que estamos presenciando. Existem fatos e factoides ocorrendo e promessa, muitas promessas.
O atual Prefeito Fortunati, por exemplo, está se aproveitando para tentar mostrar competência e obras, aproveitando-se do fato de ser o atual gestor municipal.
Entretanto, sua ânsia em anunciar e inaugurar obras parece estar em ritmo mais acelerado do que as condições permitem.
Vejamos três fatos recentes:
1.       Na quarta-feira de cinzas, anunciou que o município entregaria o complexo cultural do Porto Seco até o próximo Carnaval. Bem, já passaram quase três meses e nenhuma contratação para tanto foi feita.
2.       A mais ou menos um mês, o alcaide anunciou que o município destinaria recursos financeiros para começar as obras do metrô, sendo que esta é uma obra que está sendo negociada com o Governo Federal e Governo do Estado, e ainda não há previsão de assinatura de convênio ou financiamento. Além disso, para se iniciar qualquer obra precisa fazer uma licitação e até agora não se tem anuncio de nenhum edital para tanto. Logo, estivemos frente a mais um factoide.
3.        Hoje, 07/05, vivemos um fato digno do prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, pois o prefeito inaugurou a vigésima segunda parte de uma ciclo faixa, que se anuncia terá 9,4 km. Isto mesmo, o prefeito inaugurou 416 metros da prometida obra. Um trecho que leva do nada a lugar nenhum e que talvez, não por mera coincidência, fica na quadra em frente ao grupo RBS. Ocorre que para construir este trecho foram necessários nove meses, aproximadamente, a ser mantido este ritmo a obra completa será entregue daqui a 17 anos. Aliás, morosidade igual a tantos outros projetos atrasados da prefeitura.
Poderia continuar elencando mais outros fatos, mas, acredito que estes 3 são suficientemente significativos do desrespeito da atual gestão com os cidadãos e cidadãs porto-alegrenses. Por si, demonstram como o atual prefeito está na contramão do respeito que um administrador deveria ter com sua cidade. Aliás, talvez não tenha sido por acaso, que o mesmo inaugurou a vigésima segunda parte da ciclo faixa andando na contramão, como atestam as fotos de divulgação do evento. Fortunati é um prefeito na contramão do que Porto Alegre precisa de um gestor, verdadeiramente, comprometido com seu desenvolvimento sustentável e com novas conquistas.

*Secretário-Geral do PT de Porto Alegre e Cientista Político.