quarta-feira, 17 de abril de 2013

Não contavam com minha astúcia, por Zé Reis*



           A população de Porto Alegre foi surpreendida na manhã, desta terça-feira, dia 16/04/13, com a notícia que o ator mexicano Carlos Villagrán, popularizado através do personagem Kiko, do seriado “Chaves” será designado como “Embaixador de Porto Alegre para a Copa de 2014”.
Imediatamente, a notícia foi divulgada nas redes sociais e, concomitantemente, multiplicaram-se críticas, piadas, brincadeiras e, até, defesas do ato.
O próprio titular da Secretaria Extraordinária da Copa (SECOPA), se disse surpreso com a notícia, manifestando que não fora consultado, explicitando que se o fosse não teria concordado.
Mais adiante, foi esclarecido que a ideia partiu de consultor, ligado a SECOPA, da filha desse consultor e do produtor do show que o ator fará em Porto Alegre, com o intuito de prestar uma homenagem ao mesmo por seu “amor ao Brasil”. Além disso, disseram que Villagrán/Kiko havia torcido pela seleção brasileira, na Copa do México, em 1970, e demonstrado seu “amor” pelo futebol brasileiro, dando o nome de Edson, a um de seus filhos em homenagem a Pelé (Edson Arantes do Nascimento).
Posteriormente, o próprio prefeito, em seu blog, publicou nota defendendo a homenagem e a concessão do título honorífico. Sua argumentação está baseada nos seguintes pontos:
1.      O seriado Chaves é um dos mais assistidos na América Latina,
2.      Villagrán, que interpreta o personagem “Kiko”, é um amante do futebol, adora o futebol brasileiro, torceu pela seleção canarinho na Copa do México e, como prova deste amor, deu o nome ao seu segundo filho de Édson, em homenagem ao Pelé, pois o nascimento foi em meio à Copa de 70,
3.      O ator protagonizou o filme de maior bilheteria do cinema mexicano, “El Chanfle”, no qual interpretava um centroavante que jogava no América do México, chamado Valentino. E o personagem “Kiko” era um aficionado pelo futebol.
Como tem sido hábito, o prefeito atacou os contrários à homenagem. Neste caso, alcunhou os discordantes, de “caranguejos” e “preconceituosos”, lembrando os “micuins” de um ex-governador do RS.
Infelizmente, o alcaide porto-alegrense, esqueceu-se de trazer os argumentos que justifiquem a distinção de acordo com o propósito a que a mesma foi criada, conforme publicado, no site da SECOPA:
“Embaixador da Copa - Personalidades representativas que de alguma maneira contribuíram para a evolução, desenvolvimento, divulgação e visibilidade do futebol brasileiro em nível mundial.”.
Como vemos nenhum dos argumentos apresentados, pelo prefeito, atendem a definição acima. Aliás, destaquemos algumas das personalidades que já receberam a distinção: Carlos Simon (ex-árbitro), Lúcio (ex-zagueiro da Seleção), Taffarel (ex-goleiro da Seleção, Campeão do Mundo), Alcindo (ex-jogador da seleção e do Grêmio), Mano Menezes (ex-treinador da Seleção e Grêmio). Percebe-se, sem questionamentos, que quaisquer desses agraciados se enquadram no objetivo e na definição do título concedido.
As qualidades do ator, o fato de ser conhecido em toda América Latina e seu amor pelo Brasil não estão em questão. Entretanto, nenhum desses méritos justificam o título de Embaixador da Copa.
Sem querer querendo, o prefeito desvirtuou o objetivo da menção honorífica criada por ele mesmo. Ou, parafraseando Chaves, personagem do seriado em tela, “não contava com a astúcia da população de Porto Alegre”.
*Secretário Geral do Partido dos Trabalhadores de Porto Alegre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário