domingo, 30 de dezembro de 2012

O “novo” (velho!) secretariado de Fortunati, por Paulo Muzell



Desde que assumiu a Prefeitura no primeiro semestre de 2010 para completar o mandato iniciado por José Fogaça, Fortunati tornou público seu desconforto. Assumia as responsabilidades de um governo e de uma equipe que não eram seus. Mais jovem e ambicioso, procurou imprimir um ritmo de trabalho que contrastasse com a lentidão e a pachorra características de seu antecessor, um ex-senador de dois mandatos. O novo prefeito, numa linguagem muda, claramente queria passar à opinião pública um recado à la Roberto Carlos, do tipo “jovem guarda”: “daqui pra frente, tudo vai ser diferente!”.
Reeleito no primeiro turno com 65% dos votos Fortunati reforçou seu discurso “mudancista”. Os “feudos partidários” seriam quebrados: secretário de um partido, secretário adjunto de outro. Anunciou, também, um sistema de cobrança sistemático. De três em três meses cada secretário deverá prestar contas do andamento de seus projetos, mau desempenho resultará em afastamentos, não será tolerada a acomodação.
A composição do seu secretariado que assumirá em janeiro próximo, recentemente anunciado, desmente o discurso oficial.
Apesar do confortável resultado eleitoral, o discurso do prefeito é um reconhecimento de que nem tudo vai bem e de que o desempenho da sua administração precisa melhorar, e muito. Examinando os dados da execução orçamentária e os relatórios da Prefeitura, constatamos que o nível de execução das obras e projetos informa claramente isto.
Dos 917 milhões que o orçamento municipal previa para destinar à obras e reequipamento em 2012, foram aplicados apenas 377 milhões, ou seja, 41%. Importantes secretarias tiveram desempenho pífio. Na EPTC/SMT os dois principais projetos praticamente “não saíram do papel”. No “Bus Rapid Transit”, de 75,7 milhões de recursos previstos, foram investidos apenas 5,4 milhões (7%). O monitoramento eletrônico dos corredores tinha recursos de 11,1 milhões e foram gastos apenas 1,6 milhões (14%). E o secretário de Transportes e presidente da EPTC, Vanderlei Capellari permanecerá no cargo.
A Secretaria da Saúde (SMS) – a de pior avaliação dentre os serviços municipais – continuará sob a direção de Carlos Casartelli. Dos 73,9 milhões que constavam no orçamento da saúde para obras e reequipamento hospitalar foram efetivamente aplicados apenas 12,1 milhões (16%). Também na SMAM o desempenho não foi melhor. Dos 21 projetos que constavam no programa de trabalho da secretaria, quase dois terços – treze – sequer foram iniciados. E o seu titular, Luiz Fernando Zachia, foi mantido no cargo para o próximo período de governo. Os três titulares de importantes órgãos – SMS, SMAM e SMT – foram “premiados” apesar do péssimo desempenho. Pergunta: quem deixou de fazer no passado recente, será que no futuro fará?
Dos 36 cargos do primeiro escalão dezoito atuais ocupantes serão mantidos nos seus postos. O núcleo central do governo: Gestão, Fazenda, Procuradoria e Governança Local será o mesmo. Permanece o diretor-geral da principal autarquia municipal, o DMAE e, também os presidentes da Carris, da Procempa e da FASC. Nas micro-órgãos permanecem Pompeo de Mattos (Trabalho e Emprego) e no Gabinete de Inovação (INOVAPOA) é mantida Debora Villela. Ana Pellini e Edmar Tutikian, dois quadros egressos do governo Yeda já integravam o primeiro escalão de Fortunati, apenas trocaram de posição, o mesmo acontecendo com Izabel Matte que assume a secretaria de Planejamento Estratégico e Orçamento.
Há outras trocas de cargos: Humberto Goulart, que já dirigiu o DEMHAB vai para a SMIC, Idenir Cecchim que dirigiu a SMIC vai para a recém criada secretaria de Urbanismo. O atual diretor do DEP, Ernesto Teixeira assume a Defesa Civil. E finalmente Eloy Guimarâens, “figurinha carimbada”, ex-secretario municipal de transportes de Collares nos anos oitenta e recentemente integrante do secretariado de Yeda Crusius vai para a secretaria da Administração. Na SMOV troca-se Cássio Trogildo – denunciado por fraude eleitoral – por Mauro Zacher, denunciado por supostas irregularidades na gestão do Pro-Jovem, vítima do próprio “fogo amigo” de seus correligionários do PDT. A saída de Trogildo foi compensada pela indicação de seu cunhado , Everton Braz para o DEMHAB. Questionado sobre a indicação Fortunati, rindo, lembrou um velho slogan cunhado décadas atrás para defender a candidatura de Leonel Brizola à presidência: “cunhado não é parente”. O mesmo ele não poderá dizer da indicação de sua esposa, Regina Becker, para dirigir a secretaria extraordinária de Defesa dos Direitos Animais, a SEDA. Regina Becker já atuava junto à SEDA desde sua criação em 2010, embora oficialmente ocupasse cargo na Assembléia Legislativa. O sucesso eleitoral fez com que Fortunati oficializasse a situação da esposa na secretaria.
Caras novas, mesmo só em algumas secretarias recém criadas ou de modesta estrutura e orçamento: José Freitas na Segurança, Luciano Marcantonio nos Direitos Humanos, Luizinho Martins na Juventude e Roque Jacoby na Cultura.
 * publicado no blog  RS URGENTE, de Marcos Aurélio Weissheimer, em 27/12/12.

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