sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Mérito, talento e oportunidade, por Antônio Carlos Côrtes e José Reis


O Brasil não conhece o Brasil. O Brasil nunca foi ao Brasil, assim afirma o poeta Aldir Blanc em "Querelas do Brasil". A obra "A Busca de um Caminho para o Brasil - A Trilha do Círculo Vicioso", de autoria do professor Helio Santos, doutor em Administração pela USP, oportuniza o conhecimento de duas possibilidades de desenvolvimento do país. Santos fala da existência de um Brasil branco e desenvolvido, sobretudo, no campo tecnológico, que o insere no grupo de países ditos de Primeiro Mundo. O Brasil negro é equiparado a países de baixa renda per capita, a maioria do grupo possui pouca escolaridade e tem baixa expectativa de vida, por falta de elaboração e de implementação de políticas públicas eficientes que sirvam para diminuir a enorme distância existente entre os dois grupos.

Do mesmo modo que a leitura de obras clássicas é recomendada para quem participa de concurso vestibular, o conteúdo do livro referido reforça a necessidade de buscar soluções consensuais para resolver problemas nacionais, envolvendo a participação de diferentes setores da sociedade. É, portanto, uma leitura indispensável para a inteligência acadêmica nacional, sobretudo para integrantes de instituições públicas de ensino superior.

Ao abordar o papel da educação de nível superior, Santos afirma que a universidade pública deveria ser uma usina geradora de ideias, ajudando na redução das diferenças entre os dois Brasis. A academia teria a obrigação de abrigar talentos oriundos de diferentes setores da população brasileira, caracterizando-se pela ousadia, abrindo-se para a diversidade, oxigenando-se e cumprindo o seu verdadeiro papel. As instituições federais de ensino deveriam utilizar a sua autonomia para abrir a porta de entrada, acolhendo os talentos oriundos da população que não tem acesso a ela.

Tendo em vista a discussão das cotas na Ufrgs, fica explícito que o papel de alargar a porta de entrada para a diversidade está nas mãos do Consun (Conselho Universitário), presidido pelo reitor, com a participação de membros dos três setores da comunidade universitária e com representantes da sociedade civil do Estado. É hora de a Ufrgs abrir a porta pela maçaneta do lado de dentro, possibilitar a entrada efetiva da diversidade e cumprir a sua parte na tarefa de diminuir a distância abissal existente entre os dois Brasis, considerando sempre que o mérito, o talento e a oportunidade caminham indissociavelmente.

advogado / radialista e economista

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