segunda-feira, 12 de março de 2012

Os PSDBs

por Marcos Coimbra*

extraído do blog do NOblat, de 11/03/12.

Com apenas 20% da bancada federal e um governador entre oito, o PSDB de São Paulo tem um destaque desproporcional na imagem nacional do partido.
Isso já foi bom para os tucanos Brasil afora. Hoje, no entanto, deixou de sê-lo.
A seção paulista sobressai por dois motivos. De um lado, por razões históricas, pois foi lá que o partido surgiu. Os primeiros peessedebistas de expressão nasceram ou fizeram carreira política no estado.
Foram paulistas todos os candidatos a presidente que o PSDB apresentou, Mário Covas, Fernando Henrique, Geraldo Alckmin e José Serra.
Uns mais, outros menos, fizeram campanhas usando amplamente - e até abusando - das referências a São Paulo. Especialmente nas duas últimas eleições presidenciais, Serra e Alckmin disseram-se qualificados a governar o Brasil mostrando o que tinham feito quando ocupavam o Palácio dos Bandeirantes.
Rechearam seus programas de televisão com cenas de obras, rodovias, hospitais e escolas paulistas, ao ponto que espectadores menos atentos ficavam confusos e imaginavam que eles concorriam ao governo estadual - como se percebia nas pesquisas qualitativas feitas à época. Para o cidadão comum, São Paulo e PSDB tornaram-se quase sinônimos.
A predominância do PSDB paulista é também decorrência de ser do estado boa parte dos principais veículos nacionais de comunicação. Por razões defensáveis ou puro bairrismo, dão ao dia a dia local e a seus personagens uma importância exagerada - do ponto de vista dos leitores e espectadores de outras regiões.
Alguns de seus comentaristas acham que tudo de relevante que há no Brasil acontece na esquina da Ipiranga com a Avenida São João.
Por isso - e mais o significado de São Paulo na vida nacional, o tamanho de sua população e eleitorado -, temos o descompasso. O PSDB paulista parece maior do que é.
Na época de Mário Covas, todo o partido ganhava com essa situação. Na eleição de Fernando Henrique e ao longo de seu primeiro governo, também.
De uns tempos para cá, no entanto, isso mudou. Agora, os tucanos do resto Brasil pagam um ônus pelo que seus correligionários paulistas dizem e fazem.
O pior, para o partido, é que muitos de seus líderes e filiados - na verdade, a maioria - não pensam da mesma maneira. São peessedebistas, mas de outro estilo.
Se o PSDB não-paulista prevalecesse - de Aécio, Anastasia, Beto Richa, Marconi Perillo, Téo Vilela, dos governadores do Norte, de bons senadores e deputados -, é possível, por exemplo, que, desde 2010, o partido já fosse diferente. O mineiro poderia ter sido o candidato, o que teria alterado a dinâmica da eleição.
É provável que Dilma tivesse igualmente vencido. Mas a pós-eleição não seria igual. Aécio, pelo que se conhece, não faria uma campanha como a de Serra e não se alinharia com o que existe de mais retrógrado em nossa sociedade. E o PSDB possuiria um nome nacional para 2014, com perspectiva de futuro.
Neste começo de 2012, o PSDB paulista volta a sinalizar negativamente e a envolver o partido como um todo nas suas indecisões e recuos. A novela da escolha do candidato a prefeito da capital em nada contribui para melhorar sua reputação.
Iam fazer prévias e a militância se animou. Quiseram trocá-las pelo lançamento da candidatura de Serra, o “grande nome” que as dispensaria. Mas dois pré-candidatos não cederam - pelo menos, por enquanto. Agora, é Serra quem tenta bombardeá-las, para que não exponham o tamanho de sua liderança.
Seus confidentes revelam que, se for eleito, preferirá fazer a campanha de Dilma à de Aécio. Ou que sairá do partido e fundar o dele. Ou que ficará na prefeitura enquanto espera que Aécio seja derrotado por Dilma em 2014, para voltar a concorrer em 2018. Ou que continuará tentando ser candidato a presidente já em 2014 - pouco se importando em deixar a prefeitura, outra vez, com apenas 15 meses.
Alckmin não quer - ou não consegue - exercer a autoridade maior do partido no estado. Fernando Henrique anda tão ocupado com coisas transcendentais que parece nem se dar conta do que acontece em seu torno.
E assim, enquanto os tucanos paulistas dão cabeçadas, quem sofre é a já combalida imagem nacional do PSDB.

* sociólogo e presidente do Instituto Vox Popu

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