publicado no Blog Sul21, de 14/05/12.
Participar do recente “Seminário Internacional Ditaduras do
Cone Sul, Repressão e Resistência”, que meritoriamente levou o nome do
saudoso amigo Minhoca De Ré, e assistir a entrevista no Frente a Frente
da TVE, do advogado trabalhista, militante de esquerda, ex-deputado e
amigo Carlos Araújo, me instaram a fazer algumas reflexões no âmbito dos
direitos humanos.
Embora os avanços registrados por iniciativa da presidenta Dilma
Rousseff e da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do
Rosário, como a criação da Comissão da Verdade, ainda temos grande
dificuldades de superar um passado que parece ser um tempo que não
passou.
Ainda não há, no Brasil, uma cultura inteiramente consolidada,
permitindo que seja concedido um tratamento de Estado com amplo apoio da
sociedade, em relação ao que significou o período de exceção e arbítrio
vivido pelo nosso país de 1964 a 1985, sobretudo se contrastado, por
exemplo, com o Uruguai e a Argentina, onde seus cidadãos cobram e exigem
de seus governos os reparos necessários.
Desde sua publicação pelo governo federal, em agosto de 2007, o livro
“Direito à memória e à verdade”, versando sobre a história das vítimas
dos organismos de repressão da ditadura, teve grande relevância e
significado para nossa democracia.
Ainda que alguns, equivocadamente, pudessem atribuir à obra uma
lógica revanchista, o que ela pretende mesmo é o que nomeia o seu
título, sem deixar de subliminarmente recuperar aquilo que a grande
pensadora alemã de origem judaica Hannah Arendt dizia sobre o
“terrorismo de Estado”. Ou seja: “… como os povos podem aderir à idéia
do genocídio? Como o pacto social pode ser definitivamente quebrado?
Como a hipótese de uma sociedade das nações cai em ruína e como aceitar o
inaceitável: a inutilidade da existência, a sensação de estar sobrando e
à recusa ao outro?”.
Este documento se revestiu, portanto, de uma contribuição
importantíssima para que o atual governo nacional pudesse avançar, junto
com a sociedade brasileira, não só no reconhecimento mas, no mínimo, na
responsabilização em relação às mortes, torturas e repressões de uma
época de triste memória para todos nós.
É fundamental reconhecer que a ditadura de duas longas e cruéis
décadas de escuridão foi um monstruoso passo atrás na história
brasileira. E que o ressarcimento aos familiares das vítimas das
atrocidades e o reconhecimento dos crimes são medidas urgentes e
necessárias e, sobretudo, imperiosas.
Assim como vivemos num país no qual elegemos diretamente nossos
representantes e expomos livremente nossas opiniões e posições, não
distorcer fatos e recuperar a memória e a verdade é um grande
significado para avançar nossa incipiente democracia e fortalecer o
Estado de Direito.
Adão Villaverde é engenheiro, professor e deputado estadual, ex-presidente da AL RS
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