Desde que assumiu a Prefeitura no
primeiro semestre de 2010 para completar o mandato iniciado por José Fogaça,
Fortunati tornou público seu desconforto. Assumia as responsabilidades de um
governo e de uma equipe que não eram seus. Mais jovem e ambicioso, procurou
imprimir um ritmo de trabalho que contrastasse com a lentidão e a pachorra
características de seu antecessor, um ex-senador de dois mandatos. O novo
prefeito, numa linguagem muda, claramente queria passar à opinião pública um
recado à la Roberto Carlos, do tipo “jovem guarda”: “daqui pra frente, tudo vai
ser diferente!”.
Reeleito no primeiro turno com 65%
dos votos Fortunati reforçou seu discurso “mudancista”. Os “feudos partidários”
seriam quebrados: secretário de um partido, secretário adjunto de outro.
Anunciou, também, um sistema de cobrança sistemático. De três em três meses
cada secretário deverá prestar contas do andamento de seus projetos, mau
desempenho resultará em afastamentos, não será tolerada a acomodação.
A composição do seu secretariado que
assumirá em janeiro próximo, recentemente anunciado, desmente o discurso
oficial.
Apesar do confortável resultado
eleitoral, o discurso do prefeito é um reconhecimento de que nem tudo vai bem e
de que o desempenho da sua administração precisa melhorar, e muito. Examinando
os dados da execução orçamentária e os relatórios da Prefeitura, constatamos
que o nível de execução das obras e projetos informa claramente isto.
Dos 917 milhões que o orçamento
municipal previa para destinar à obras e reequipamento em 2012, foram aplicados
apenas 377 milhões, ou seja, 41%. Importantes secretarias tiveram desempenho
pífio. Na EPTC/SMT os dois principais projetos praticamente “não saíram do
papel”. No “Bus Rapid Transit”, de 75,7 milhões de recursos previstos, foram
investidos apenas 5,4 milhões (7%). O monitoramento eletrônico dos corredores
tinha recursos de 11,1 milhões e foram gastos apenas 1,6 milhões (14%). E o
secretário de Transportes e presidente da EPTC, Vanderlei Capellari permanecerá
no cargo.
A Secretaria da Saúde (SMS) – a de
pior avaliação dentre os serviços municipais – continuará sob a direção de
Carlos Casartelli. Dos 73,9 milhões que constavam no orçamento da saúde para
obras e reequipamento hospitalar foram efetivamente aplicados apenas 12,1
milhões (16%). Também na SMAM o desempenho não foi melhor. Dos 21 projetos que
constavam no programa de trabalho da secretaria, quase dois terços – treze –
sequer foram iniciados. E o seu titular, Luiz Fernando Zachia, foi mantido no
cargo para o próximo período de governo. Os três titulares de importantes
órgãos – SMS, SMAM e SMT – foram “premiados” apesar do péssimo desempenho.
Pergunta: quem deixou de fazer no passado recente, será que no futuro fará?
Dos 36 cargos do primeiro escalão
dezoito atuais ocupantes serão mantidos nos seus postos. O núcleo central do
governo: Gestão, Fazenda, Procuradoria e Governança Local será o mesmo.
Permanece o diretor-geral da principal autarquia municipal, o DMAE e, também os
presidentes da Carris, da Procempa e da FASC. Nas micro-órgãos permanecem
Pompeo de Mattos (Trabalho e Emprego) e no Gabinete de Inovação (INOVAPOA) é
mantida Debora Villela. Ana Pellini e Edmar Tutikian, dois quadros egressos do
governo Yeda já integravam o primeiro escalão de Fortunati, apenas trocaram de
posição, o mesmo acontecendo com Izabel Matte que assume a secretaria de
Planejamento Estratégico e Orçamento.
Há outras trocas de cargos: Humberto
Goulart, que já dirigiu o DEMHAB vai para a SMIC, Idenir Cecchim que dirigiu a
SMIC vai para a recém criada secretaria de Urbanismo. O atual diretor do DEP,
Ernesto Teixeira assume a Defesa Civil. E finalmente Eloy Guimarâens,
“figurinha carimbada”, ex-secretario municipal de transportes de Collares nos
anos oitenta e recentemente integrante do secretariado de Yeda Crusius vai para
a secretaria da Administração. Na SMOV troca-se Cássio Trogildo – denunciado
por fraude eleitoral – por Mauro Zacher, denunciado por supostas irregularidades
na gestão do Pro-Jovem, vítima do próprio “fogo amigo” de seus correligionários
do PDT. A saída de Trogildo foi compensada pela indicação de seu cunhado ,
Everton Braz para o DEMHAB. Questionado sobre a indicação Fortunati, rindo,
lembrou um velho slogan cunhado décadas atrás para defender a candidatura de
Leonel Brizola à presidência: “cunhado não é parente”. O mesmo ele não poderá
dizer da indicação de sua esposa, Regina Becker, para dirigir a secretaria
extraordinária de Defesa dos Direitos Animais, a SEDA. Regina Becker já atuava
junto à SEDA desde sua criação em 2010, embora oficialmente ocupasse cargo na
Assembléia Legislativa. O sucesso eleitoral fez com que Fortunati oficializasse
a situação da esposa na secretaria.
Caras novas, mesmo só em algumas
secretarias recém criadas ou de modesta estrutura e orçamento: José Freitas na
Segurança, Luciano Marcantonio nos Direitos Humanos, Luizinho Martins na
Juventude e Roque Jacoby na Cultura.