Na economia e na política, convencionou-se a
“época de crises, também é época de oportunidades. A mais famosa, é a crise de
1929, precedida pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. A superação
dessa crise, só começou em 1933, durante o governo Roosevelt, quando da
aplicação do plano New Deal (Novo ajuste), baseada nas ideias keynesianas de
intervenção estatal para reversão de crises macroeconômicas, contrariando a
ortodoxia liberal, que permitiu a recuperação da nação americana, lançando-a
para a liderança mundial.
Na vida, em geral, momentos de crise,
igualmente podem servir de superação e desenvolvimento. Por isso, devemos
encarar a atual crise do carnaval, criada pelo próprio governo municipal, ao anunciar
o não repasse de verbas, como um momento de inflexão para que a folia volte a
crescer e se desenvolver.
Não é a primeira e nem será a última. A
anterior, no início dos anos 2000, foi decisiva para que a Administração de
então, decidisse por encaminhar a construção do Sambódromo/Complexo Cultural.
A escolha do local não foi nada pacífica e
fácil. No mínimo, 4 locais foram propostos, antes de se chegar ao Porto Seco,
sendo todos rejeitados. A opção pelo Porto Seco, como sabemos, permitiu que se
instalassem os “sonhados” barracões para confecção e guarda de alegorias. Em
2004, foi inaugurado com a conclusão dessa etapa de obras, porém, sem as
sonhadas arquibancadas e outras estruturas que completariam o Complexo, as
quais até agora não foram realizadas.
No entanto, é inegável, que mesmo incompleto o
Porto Seco permitiu um desenvolvimento do carnaval. Uma avaliação criteriosa, constatará
que ao menos até 2014, o crescimento foi contínuo. Infelizmente, esse
crescimento não foi acompanhado por melhorias nos métodos de gestão, melhorias
das quadras e sustentabilidade com quadros sociais.
Agora, diante da ameaça de não cumprimento da
Lei 6619/90, que oficializa o carnaval e determina que o município é
responsável por sua infraestrutura, mais uma crise eclode.
Diante disso, tal qual uma roleta russa,
disparam-se soluções e tentativas de soluções em todas as direções. Entre
tantas, ressurgem os defensores do abandono do Porto Seco e o retorno do
carnaval para o “centro da cidade”.
Ora, se não há dinheiro, para construir
estrutura no Porto Seco, também, não existe para construir em outro lugar.
Abandoná-lo, é um grande equívoco. A hora é de aproveitar a crise e retirar
compromissos de sustentabilidade e infraestrutura de todos os agentes
envolvidos. E não de retrocessos.
José Reis
Cientista político e carnavalesco
ps.: artigo publicado no Jornal do Comércio, pág. 4, em 17/01/17.